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  • Bárbara Zago e Matheus Mans

Crítica: 'Halloween' ignora continuações e é um dos filmes do ano


Quando estabelecida uma relação de dependência, ela é sempre mútua -- ainda que, de início, não seja tão óbvia. Nos filmes de terror, isso não é diferente. Nem no novo Halloween, continuação do clássico de 1978 e que ignora todas as continuações da franquia até então. Na trama, que se passa exatamente 40 anos após os assassinatos na cidade de Haddonfield, Michael Meyers escapa da prisão e volta para se vingar. Sua vítima principal é Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), a ex-babá que o deteu e que, agora, se tornou uma reclusa em sua própria casa e, principalmente, em sua própria vida.

Surpreendentemente dirigido por David Gordon Green, que comandou o emocionante e brega O Que Te Faz Mais Forte, Halloween começa com calma e primeiro apresenta dois jornalistas que procuram investigar a vida de Myers e o visitam na instituição psiquiátrica na qual está preso e internato. O que começa como um grande roteiro de filme de terror medíocre, na verdade, nada mais é do que uma forma do pública recriar os vínculos e familiaridades com o psicopata. A qualidade, então, cresce gradualmente.

Mesmo desconsiderando o restante da franquia, a história faz algumas atualizações necessárias, mas se mantém fiel ao gênero slasher e, para a sorte dos fãs, à famosa e arrepiante música tema do filme -- usada aqui de maneira bem mais equilibrada do que no filme de 1978. Laurie Strode também deixa de ser uma adolescente indefesa para se tornar uma mulher forte, que tem como prioridade se vingar de Michael Myers. Green deixou de lado o clássico das mulheres semi-nuas e as cenas de sexo gratuitas para acrescentar um toque feminista, que faz todo o sentido para a história e para o contexto.

Quando Myers é transferido de uma instituição psiquiátrica para outra, ele consegue escapar e volta com toda a morbidez clássica que o define: uma máscara inexpressiva amedrontadora junto com sua respiração ofegante. Após tanto tempo, ele se torna uma espécie de lenda, deixando muitos profissionais da área da saúde fascinados. É a partir dessa obsessão que Green traz uma pequena reviravolta à história.

Para qualquer fã de filmes de terror, chega a ser emocionante ver um filme que investe tão bem na construção de personagens, mesmo que, para isso, não precise de palavras -- como é o caso do próprio Michael Myers, que não diz uma única sílaba em 106 minutos. Isso junto às cenas de assassinato, que estão extremamente bem feitas, causando uma pequena repulsa em quem assiste. Próximo do final, o diretor consegue ainda criar um hide and seek (esconde-esconde) sensacional, proporcionando momentos de tensão prazerosos. Um dos melhores momentos do cinema em 2018.

Seria muito difícil que Jamie Lee Curtis voltasse para uma continuação de Halloween, 40 anos depois, se não fosse algo que valesse, e muito, a pena. Sua atuação é elogiável, sem contar a nostalgia de vê-la no mesmo papel tanto tempo depois. Ignorar os outros filmes da franquia foi uma boa ideia, apesar de arriscada. Green conseguiu fazer algo à altura de John Carpenter, diretor do filme de 1978, além de acrescentar elementos essenciais para melhorá-lo ainda mais. Sem dúvidas, um dos filmes do ano.

 
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