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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: Horror suíço, 'Animais' é tenso e angustiante


O longa Animais começa como uma história de Woody Allen. Um casal austríaco está passando por um momento complicado, já que a esposa (Birgit Minichmayr) desconfia que o marido a está traindo com a vizinha de cima. Ele (Philipp Hochmair), por sua vez, parece não levar as dores da esposa a sério, fazendo piada com algumas situações. Por fim, então, o casal decide partir para o interior da Suíça, numa tentativa de recuperação conjugal.

No caminho para o local, porém, desastre: Nick, o marido, não vê uma ovelha no meio da estrada e a acerta com tudo. Anna, a esposa, fica ferida e precisa passar por alguns exames antes de ir para a casa de campo. Só que depois disso, a história com toques de Allen vira uma mistura angustiante de filmes de Hitchcock e de Palma. Afinal, o longa ganha contornos sombrios, deixando o espectador no escuro quanto ao que se desenrola na tela.

Greg Zglinski, diretor do espirituoso Wymyk, consegue imprimir um tom muito autoral -- e complexo -- ao longa-metragem. Sabe a confusão narrativa de filmes como Precisamos Falar Sobre Kevin, A Ilha do Medo ou Identidade? Aqui, em Animais, essa confusão é elevada ao extremo. Não há clareza sobre o que é sonho, imaginação, realidade. É uma sucessão de estranhos eventos que parecem conectados, mas que, ainda assim, possuem conexões borradas.

O elenco também ajuda imensamente nessa tarefa. Birgit Minichmayr (Perfume) e Philipp Hochmair (A Experiência) conseguem trazer personalidades dúbias aos seus personagens, dificultando a tarefa do público em dar ordem ao caos. Mona Petri (Hello Goodbye) é uma atriz mediana em tela, mas que até consegue levar o papel triplo que Zglinski incube à ela. Seu arco dramático, ainda que menos interessante do que o do casal, também confunde -- num bom sentido.

E essa confusão é levada ao extremo, sem parar, ao longo dos 95 minutos de projeção. É algo que desespera, naturalmente, já que o ser-humano sempre busca uma lógica nas coisas que vê. E em Animais, sem dúvidas, essa lógica é lançada ao espaço. E aí que surge a grande questão do filme: com essa falta de aparente ordem na trama, o público deverá se dividir quanto à qualidade da produção. Alguns vão amar, outros sairão da sessão praguejando.

Afinal, ainda que Zglinski quase revele demais nos últimos 10 minutos, ele para antes que o filme se torne óbvio. E aí o resto é com o espectador: ao contrário da maioria dos filmes, que sempre acaba entregando tudo mastigado, o cineasta entrega menos do que é preciso. E aí pode surgir aquela sensação que finais abertos causam em algumas pessoas, que anseiam por uma conclusão. Já adianto: aqui não há nada claro, ainda que o fim de tudo esteja lá, em algum lugar.

Animais, então, é um filme complexo, difícil, angustiante, tenso. Possui algumas sacadas narrativas que são óbvias demais e até clichês ou pouco interessantes -- como o gato preto falante, ao estilo do bode de A Bruxa --, além de entregar menos do que deveria para a audiência montar o quebra-cabeça final. Ainda assim, porém, prova como filmes podem ter narrativas disfuncionais e que ainda assim deem medo. Afinal, este é um sentimento primal e precisamos de muito pouco para senti-lo. Animais, claramente, faz isso com louvor.

 

* Filme assistido durante a cobertura da 7ª edição do Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo

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