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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Interceptor', da Netflix, seria sucesso de audiência no Supercine


Interceptor é um filme que chega ao catálogo da Netflix nesta sexta-feira, 3, mas com cara de que é uma produção qualquer dos anos 1980 e que seria um sucesso no Supercine, da TV Globo. Afinal, são vários os elementos do longa-metragem que remetem às décadas passadas: o conflito de mísseis com a Rússia, um vilão que luta kung-fu e outro em busca de vingança contra o país -- ainda que haja, aqui, elementos contemporâneos, como o "make America great again".


Além disso, há toda uma história simples, que busca apenas enaltecer a violência, o militarismo e afins. Na trama, JJ (Elsa Pataky) é uma militar desacreditada dos Estados Unidos após acusar (e provar) que seu superior estava cometendo abuso sexual. Assim, enquanto há uma tempestade ao seu redor, ela é designada para servir em uma base marítima dos Estados Unidos com capacidade bélica para desarmar mísseis, sendo central na estratégia americana.


As coisas saem de controle, porém, quando a Rússia envia mísseis para os Estados Unidos e terroristas, ao mesmo tempo, atacam a base americana em que JJ está. A partir daí, nasce uma trama comandada pelo estreante Matthew Reilly, que assina o roteiro ao lado de Stuart Beattie (Colateral), sobre essa militar fazendo de tudo para conseguir salvar a base, interceptar mísseis, matar alguns terroristas e, de quebra, ainda calar a boca dos militares machistas e intolerantes.

Em uma primeira camada, assim, Interceptor é um filme puro e simples de sobrevivência, com um verniz militar e de invasão, usando praticamente um único cenário ao longo de seus pouco mais de 90 minutos. Não há qualquer novidade nisso, sendo algo já visto aos montes principalmente nos pirotécnicos filmes dos anos 1980 -- dá para imaginar uma história muito similar, tirando esse contexto sexista, protagonizada por Sylvester Stallone ou Schwarzenegger.


Aliás, vamos falar do contexto sexista e xenófobo que surge na história. Claramente Matthew Reilly não tem ideia de como construir seus personagens: o vilão Alexander (Luke Bracey) mostra estar revoltando com o exército, usando inclusive o que JJ está passando como exemplo, mas ao mesmo tempo falando que quer a América boa novamente. É um conservador ou um progressista extremista? Reilly tenta mesclar facetas, mas só deixa tudo mais artificial.


O roteiro como um todo é um problema -- essa questão é só a ponta do iceberg. Reilly tenta criar drama e emoção com uma pobreza inacreditável, sem nunca conseguir fazer algo com antecedência. Há uma cena, com uma hora de projeção, envolvendo o pai de JJ. Ao invés de ter uma construção do personagem antes, o roteiro corre alguns segundos antes para apresentar o personagem do pai, mostrar a relação com JJ e, logo depois, fazer uma reviravolta emocional.


Tudo é muito precipitado. Interceptor não consegue deixar seu tom oitentista, brega e um tanto quanto ultrapassado na essência apesar de despejar ideias que conversem com questões contemporâneas. Seria um sucesso absoluto do Supercine, nas madrugadas da Globo, e nada além disso. É mais uma vez a Netflix, que agora está focada em fazer um ou dois lançamentos por semana, comprovando que é especialista em fazer filmes que ninguém vai lembrar.

 

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