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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Legado Italiano', na Netflix, é documentário afetuoso sobre imigração


Os descendentes de imigrantes geralmente têm muito orgulho de suas origens. Ainda que haja certo exagero no papel desse passado europeu ("sou estourado por causa do meu sangue italiano", dizem alguns), é interessante ver como esses imigrantes pobres e rejeitados por sua pátria ajudaram a construir a sociedade brasileira ao lado de povos nativos e escravizados.


Em Legado Italiano, a diretora Márcia Monteiro mostra um pouco mais dessa comunidade de descendentes italianos no Brasil e, mais especificamente, na Serra Gaúcha. Ainda que seja um olhar bastante focado e particular, a cineasta consegue falar sobre vários assuntos que rodeiam a cultura italiana: o vinho, a religião, a lida com a terra, a música, relação com a família, etc.


É bonito ver esse resgate histórico, olhando para o passado com afeto e carinho, celebrando essas pessoas que lutaram para construir uma história. Eu, que sou bisneto de italianos, senti emoção ao ver pessoas com histórias tão semelhantes com a dos meus avós e bisavós -- difícil não fazer paralelos, ver semelhanças e até similaridades na fala e no jeito de se expressar.

Uma pena, porém, que Legado Italiano fique tão restrito ao cenário gaúcho da imigração. Ainda que o Sul do país tenha recebido uma quantidade imensa de imigrantes, principalmente italianos e alemães, muitos europeus desceram em portos em São Paulo, Rio de Janeiro e em algumas cidades do Nordeste. Teria sido interessante explorar essas diferentes comunidades.


Da forma que ficou, fica uma sensação estranha, principalmente lá pelos 20 minutos finais, de que o filme era apenas um pretexto para falar das produtoras de vinho e espumante que existem na Serra Gaúcha. A Salton, uma das maiores marcas de vinho e espumante no Brasil, é uma das patrocinadoras do filme. Fica um gosto amargo de um propósito puramente comercial.


Dessa forma, Legado Italiano é um filme gostoso de assistir. Viajamos pela História, pensamos na nossa origem, nos nossos antepassados. Poderia ter sido um pouco mais ousado em sua criação e produção, indo além da comunidade gaúcha e em um formato narrativo, talvez, que explore melhor essa história -- animações, por exemplo, seriam certeiras na recriação histórica.


Mas tudo bem. Ainda assim, é um filme que funciona dentro de um público específico, com ligações diretas com essa história de imigração. Filhos, netos e bisnetos dessas pessoas, que enfrentaram condições adversas, vão se emocionar e enxergar ali um pouco de si, ainda que numa cultura diluída e espalhada através das décadas que nos separam. Bonito e afetuoso.

 
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