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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Madalena' fala sobre invisibilidade trans com força e criatividade


Que boa, e dolorosa, surpresa é Madalena, longa-metragem que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 9. Dirigido pelo estreante Madiano Marcheti, que assina o roteiro ao lado de Tiago Coelho e Thiago Gallego, o longa-metragem começa com uma cena quase documental: emas andando em um campo, provavelmente agrícola. Elas correm pra lá, pra cá. Até que a câmera sai desse olhar apurado nas aves e recai em um corpo. É Madalena, mais uma transexual morta.


A partir daí, misturando esse tom documental, com aspectos naturalistas, Marcheti nos mostra três histórias, todas envolvendo a vida e morte de Madalena. Primeiramente, uma conhecida (Natália Mazarim) que vai várias vezes cobrar dinheiro da falecida; depois, um homem (Rafael de Bona) que descobre o corpo em sua propriedade e fica desesperado com o problema que podem vir; por fim, amigas (Pâmella Yulle, Lua Guerreiro) guardando os pertences de Madalena.


Apesar de bem distintas, todas as histórias falam sobre uma coisa em especial: a invisibilidade dessa morte, dessa pessoa trans, de Madalena. Afinal, todas as pessoas parecem impassíveis diante do ocorrido: uma só quer seu dinheiro, de toda e qualquer forma, outra está preocupado com sua reputação e, por fim, até mesmo as amigas transexuais da personagem-título parecem se desfazer dos pertences de uma maneira um tanto quando banal e livre de preocupações.

Pequenas sacadas visuais e narrativas, como as emas no começo ou falas que revelam o caráter conservador daquela sociedade (a mãe falando sobre concurso público, por exemplo), ajudam a tornar o longa-metragem mais aguçado. Há, também, um elemento interessante logo em uma das primeiras cenas que, de forma um tanto quanto reveladora, pode nos dar detalhes sobre a morte de Madalena. São pequenas coisas que, juntas, forma esse todo assustador.


São apenas dois problemas mais evidentes que tiram um pouco da força do longa-metragem. Primeiramente, o fato de que a personagem-título nunca conta sua história, nunca aparece, não tem voz. Obviamente, faz sentido dentro da história que é contada, mas ajuda a reforçar estereótipos e condições problemáticas dentro de nossa sociedade. Além disso, há diferenças de nas histórias: a terceira é muito melhor do que a primeira -- que é melhor do que a segunda.


Isso causa uma percepção de irregularidade. No entanto, no fim das contas, Madalena traz um olhar social potente, tratando da invisibilidade transexual em nossa sociedade -- a que mais mata transexuais e travestis no mundo. Tem seus problemas, sim, mas ainda assim fala sobre essas questões de maneira ousada, criativa e provocativa. Madalena, sem dúvidas alguma, é um dos filmes brasileiros mais interessantes dessa safra de 2021. Vale a pena a visita.

 

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