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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Manifesto' é pretensioso demais em sua proposta

Atualizado: 11 de jan. de 2022


Antes de tudo, vamos esclarecer uma coisa: o filme Manifesto não é um filme. E isso não é uma analogia ao famoso “quadro do cachimbo”. Pelo contrário: este produto audiovisual de Julian Rosefeldt nasceu como parte de uma instalação de múltiplas telas no Hamburger Bahnhof, famoso museu de Berlim. O produto chega agora aos cinemas é, na verdade, uma pretensiosa e disforme adaptação dessa instalação artística, cheia de falhas e problemas de linguagem.

Em tese, Manifesto tenta mostrar várias linguagens e observações sobre a arte, indicando o papel de grandes movimentos artísticos do século XX. No meio do caos verborrágico deste produto audiovisual, é possível compreender movimentos como o futurismo, o dadaísmo, o Pop Art e até a influência de cineastas importantes para quebras de paradigmas na sétima arte, como Von Trier (Ninfomaníaca) e de Jim Jarmusch (Paterson). Tudo isso a cargo de uma atriz: Cate Blanchett.

Logo no começo, então, fica clara a proposta de Rosefeldt. Simplesmente, ele coloca a atriz australiana para interpretar mais de uma dezena papéis. Cada um dele representa um dos movimentos artísticos e faz provocações quanto ao aspecto da arte na cultura de hoje, além de mostrar como influenciou a sociedade como um todo. É uma grande crítica ao papel da arte e do artista. Sem meias-palavras, sem medo de ofender. Rosefeldt, por meio da voz de Blanchett, fala o que quer falar.

E assim, Manifesto caminha para um abismo sem volta. Verborrágico do começo ao fim, sem pausas, o texto é interpretado por uma Blanchett afetada e que nem parece sombra do que foi visto em Blue Jasmine -- ainda que sua transformação nos treze personagens dentro da narrativa seja surpreendente e, em alguns casos, um tanto quanto louvável. No entanto, o overacting da atriz atrapalha no resultado final e a principal peça do longa já cai por água abaixo.

Outro grande problema é o que citei logo no começo do texto, fazendo uma brincadeira com o quadro A Traição das Imagens: o filme Manifesto não é um filme. Não foi pensado para ser um. Assim, não há elementos para considerar a sua integridade e qualidade. Não há fio narrativo: o produto audiovisual é um amontoado de esquetes dispersas sobre a arte e seus movimentos. Falta, também, certo didatismo: eu, que sempre estudei artes, fiquei confuso em identificar qual movimento era qual.

O que salva o produto audiovisual -- me recuso a falar que é um filme -- ser um amontado de pretensiosismo é a estética. Rosefeldt conseguiu fotografar belas cenas e criou bons e interessantes momentos contemplativos, que são interrompidos pela narrativa afetada de Blanchett. Ainda assim, porém, continua sendo um ponto positivo, junto com caracterização da atriz australiana em alguns de seus papéis, como o mendigo, a professora e quando usa cabelos ruivos.

No final, Manifesto tenta ser algo que nunca será. Tenta provocar, mas só causa cansaço e sentimentos enfadonhos. Tenta dar um Oscar para Cate Blanchett, mas exagera no tom e na interpretação da atriz. Sem dúvidas, a ideia era boa se tivesse ficado circulando nos museus que existem pelo mundo. Já o resultado na sala escura do cinema não agrada. Não é, afinal, um filme.

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