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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Matrix Resurrections' é o mais emocionante da franquia


Quando os créditos de Matrix Resurrections começaram a subir na telona, confesso que o que mais me interessou na sala de cinema foi ver a reação de colegas da imprensa. Alguns praguejavam que aquele era o pior filme da franquia -- cheguei a ouvir um sonoro "é o pior filme do ano". Mas uma pessoa, bem atrás de mim, falou para a colega sentado ao lado que o filme era "incrível" e "uma das melhores experiências do ano". Um caldeirão de opiniões, todas opostas.


E não poderia ser diferente com um filme de Lana Wachowski. Ao lado da irmã, Lily, ela sempre fez um cinema provocativo, diferenciado. Algumas vezes perdeu totalmente a mão (O Destino de Júpiter), outras foi completamente incompreendida (A Viagem). Independente disso, porém, ela ainda faz filmes de resistência, de autor mesmo, que trazem provocações. E enquanto Matrix, de 1999, deu um cutucão na tecnologia, Resurrections quebra toda expectativa ao falar sobre amor.


Afinal, o longa-metragem é justamente sobre isso: amor, paixão, reverência. Na trama, acompanhamos Thomas A. Anderson (Keanu Reeves) vivendo sua vida normalmente. Ele é designer de jogos e, olha a metalinguagem, desenvolveu o game de Matrix. Os outros três filmes, assim, logo de cara são colocados nessa posição de questionamento: será que tudo aquilo aconteceu mesmo ou são apenas memórias falsas de um jogo? A dicotomia surge novamente.


A primeira hora de Matrix Resurrections é absolutamente espetacular. Daqueles momentos que, na sala de cinema, sentimos que estamos vendo algo histórico, marcante. Afinal, para reintroduzir o universo e o personagem de Reeves na trama, a diretora Lana Wachowski -- desta vez, sem Lilly -- brinca com a metalinguagem. A questão do jogo e o questionamento do personagem sobre o que é real ou não é traz um adocicado diferenciado à clássica franquia.

Um momento em especial traz uma equipe de criação pensando em uma sequência para o game: falam toda hora em efeitos especiais, "bullet time" e por aí vai. Até dizem que se Thomas não aceitar o convite para retornar ao universo do videogame, a Warner Bros. já avisou que fazem sem os criadores originais -- um recado inesperado da própria Lana após o estúdio começar a desenvolver projetos com a grife de Matrix sem a participação das irmãs cineastas.


Depois dessa primeira hora absolutamente genial, entramos em um formato de história que, aí sim, é 8 ou 80. Lana decide, nos outros 90 minutos, falar sobre amor. Obviamente, há discussões sobre tecnologia aqui e acolá. A cena do "bullet time" ganha escala, como se aqueles criadores estivessem realmente satisfeitos. No entanto, o centro das atenções é o amor de Lana ao cinema, aos personagens de Matrix e, acima de tudo, o amor entre os próprios personagens.


É um filme mais solar do que sombrio. É uma mudança de tom radical que acontece em um momento em que Lana deixa claro seu cansaço com a forma que Matrix foi parar na boca de grupos reacionários. Ela reafirma que é uma das criadoras da obra e não deixa que a mensagem escape. A ação acaba sendo coadjuvante em um momento em que a emoção toma a tela. É difícil não sentir algo conforme o filme avança: seja desconforto, frustração ou real empolgação.


Reeves e Carrie-Anne Moss estão bem de volta aos seus personagens, mas são as novas adições do elenco que realmente causam impacto. Yahya Abdul-Mateen II (Candyman) mostra novamente como é um dos grandes nomes de sua geração, fazendo um Morpheus mais leve e solto. Neil Patrick Harris (How I Met Your Mother) e Jonathan Groff (Hamilton) se tornam centrais na forma que o filme avança, colocando uma força inesperada dentro dessa história de amor.


Mas, no final, voltamos para aquelas conversas opostas ao final da sessão para a imprensa: Matrix Resurrections é mais um caso de amor ou ódio, 8 ou 80. Alguns vão amar a forma que o filme é conduzido, outros vão odiar. Por isso, não há dúvidas de que é o mais emocionante da franquia: sejam sentimentos bons ou ruins, eles vão surgir. E, no final das contas, é isso que mais importa. Duas décadas depois, Matrix continua a provocar das mais diversas formas.

 

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