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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Me Leve para um Lugar Legal' explora realidades da Bósnia


Mistura de road movie com coming of age, o longa-metragem Me Leve Para um Lugar Legal, numa primeira camada, é daqueles filmes irritantes. Afinal, o roteiro e a direção de Ena Sendijarevic valoriza a jornada do trio de adolescentes protagonista como se fosse só aquilo. Como se o longa-metragem, no final das contas, fosse apenas sobre três jovens sem rumo.


No entanto, é mais do que isso. Produção da Holanda e da Bósnia, o filme acompanha a história de uma garota bósnia, mas que imigrou para os Países Baixos, e que precisa voltar pra sua cidade de origem em busca do pai, doente e internado num hospital. Para isso, porém, ela irá contar com a ajuda do primo e de um outro colega, com caminhos totalmente diferentes na vida.


O fato é que Ena, natural de Bósnia e Herzegovina, não quer apenas contar a história de uma garota irritante e seus dois parceiros. Não faria sentido: é uma cineasta independente, no começo de carreira. Qual seria o ponto de uma história assim? Qual a finalidade? Por isso, logo após subirem os créditos, fui atrás de histórias, de significados. E o filme ficou mais saboroso.


A ideia da diretora era mostrar um pouco mais da sociedade bósnia através do cinema. A protagonista Alma (Sara Luna Zoric) é a garota imigrante, mas que precisa voltar; já o amigo (Lazar Dragojevic) é o rapaz que quer sair daquele lugar, fugir da Bósnia; e o primo (Ernad Prnjavorac) representa o bósnio que tenta reencontrar as raízes e se depara com violência.

E assim, a partir disso, Ena tece uma trama de encontros e desencontros, muito bem dirigida, e que retrata a realidade um país distante da realidade de todos nós. A partir dessa ótica, é saboroso e interessante ingressar na jornada desse trio e perceber, assim, a situação do País.


No entanto, é claro, há de se destacar algumas coisas. O roteiro de Ena, se quer fazer sentido fora das fronteiras da Bósnia, teria que ter uma profundidade um pouco mais claro. Não uma didática, é claro. Mas indicar isso tudo que falei, sem que o espectador precise buscar textos de apoio ou coisas do tipo. Um filme precisa ser entendido em sua integridade. E isso não ocorre.


Além disso, há um excesso de morosidade e que causa certa irritação, de fato. A artificialidade que surge de algumas situações, aparentemente intencional para despertar esse ar de sociedade morta e refém de algo exterior, também acaba distanciando o público. E de novo: uma trama mais madura, sem ser didática, teria sido o remédio perfeito para essas sensações.


Assim, Me Leve para um Lugar Legal é uma produção muito mais profunda e interessante do que parece num primeiro momento. A lentidão exagerada e a irritação que surge a partir de uns personagens deslocados pode acentuar o distanciamento. No entanto, é interessante entender a história de Ena, compreender suas intenções e mergulhar de vez nessa jornada de Alma.

 
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