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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: ‘Medida Provisória’ se destaca com direção firme de Lázaro Ramos


Vamos começar esta crítica de forma diferente, falando do final de Medida Provisória. No último minuto do longa-metragem, o diretor Lázaro Ramos coloca a excelente música O Que se Cala, de Elza Soares, para tomar conta da imersão. Enquanto isso, imagens do povo preto no Brasil mostra uma espécie de revolta social. As pessoas tomam, enfim, seu lugar de fala.


Essa sensação de urgência na narrativa de Medida Provisória ganha força nos cinco minutos finais, indo além do esperado, mas não é algo inesperado. Este longa-metragem apresentado no Pan African Film Festival 2021 é daquelas produções que transpiram urgência e necessidade. Assim como Bacurau, ainda que sem a genialidade absurda deste, há efervescência.


Medida Provisória, afinal, se passa num Brasil distópico que não está tão no futuro assim. Após uma série de medidas polêmicas, o governo brasileiro decide banir os negros do País. Bradam que é melhor que eles voltem para suas terras originárias, numa mistura da xenofobia e do racismo estrutural de cada dia. A partir daí, acompanhamos os efeitos dessa decisão.


A direção de Ramos, que adapta muito bem a peça que originou o longa-metragem, é o primeiro acerto. Ainda que falte sutileza, como recentemente em Casa de Antiguidades, ele vai fundo e mergulha nas dores de ser negro no Brasil. Revela preconceitos em falas e gestos, provoca e instiga. Fala de um Brasil que não existe agora, mas que está se provocando, instigando.


Para muitos, pode haver exageros na colocação de algumas situações, quando a fantasia da distopia toma conta — crítica parecida recebida por M8. Mas fica a questão: será que há mesmo? Tudo bem, é impossível que haja um movimento legislativo como no filme. Mas os povos pretos e até mesmo originários do Brasil não vivem exilados em suas próprias terras, em seu País?


Tudo ganha contornos ainda mais potentes com as atuações. Taís Araújo entrega uma personagem forte, direta ao ponto. Emociona e arrepia. Seu Jorge está mais contido, mas entrega a mesma energia no papel de um jornalista que é parente de Araújo. E Alfie Enoch, da saga Harry Potter, impressiona ao interpretar um brasileiro sem qualquer embaraço.


Enfim, Medida Provisória é um filme sobre o Brasil de amanhã que precisamos assistir pra ontem. Já. Agora. A discussão aqui embutida vai além de qualquer blá-blá-blá que podemos chegar sem o amparo do cinema. Com longas assim fortes e potentes, vamos mais longe. Vamos além. Que a palavra de Lázaro Ramos chegue mais longe e faça a diferença.

 
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