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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte 1' é a nêmesis do cinema de ação


O cinema de ação, assim como qualquer produção de gênero, frequente foi visto como algo menor -- sempre está abaixo do drama, por exemplo, e às vezes até mesmo dentro de gêneros irmãos, como a ficção científica e o terror. É, afinal, o filme da porradaria. O que tem para pensar, para sentir, para se emocionar? Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte 1, que estreia nesta quinta-feira, 13, é a prova de que todos estão errados: cinema de ação é gente grande.


Novamente dirigido por Christopher McQuarrie (Efeito Fallout), o longa coloca Cruise frente a frente com um perigo que não poderia ser mais real: a inteligência artificial. Aqui, o agente Ethan Hunt é chamado para encontrar duas partes de uma chave. O que ela abre? Ninguém sabe. A informação certa, na verdade, é que é essa chave que pode controlar essa inteligência artificial absolutamente poderosa, que pode invadir governos e até agências secretas. Um item poderoso.


É um inimigo invisível que, apesar de ser materializado pela figura de Gabriel (Esai Morales), uma espécie de guardião da tecnologia, não pode ser derrotado com socos, pontapés e afins. Em essência, continua sendo um filme de MacGuffin, que é quando um personagem persegue um objeto para mover a história, mas que agora tem um inimigo por trás que se esvai no ar. É Tom Cruise contra todos, contra o invisível, contra aquela criatura que está em todo lugar.


Com isso, mesmo tendo um fiapo de história escrita por Erik Jendresen (Irmãos de Guerra) e pelo próprio Christopher McQuarrie, Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1 tem uma das histórias mais envolventes da franquia. Afinal, pela primeira vez, Hunt está em perigo absoluto. Está fragilizado. Ainda que o vilão de Philip Seymour Hoffman em Missão: Impossível 3 continue com o posto de mais ameaçador, é a Entidade que mais deixa Hunt à mercê do perigo.

Automaticamente, o longa-metragem ganha um tom de urgência acima da média. Quase desesperador. Com mais de 2h40 de duração, Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1 quase nunca deixa a peteca cair: com a necessidade de correr contra o tempo sempre, como se existisse uma bomba armada sem parar, o espectador fica na ponta da cadeira esperando uma resolução que não chega tão facilmente — afinal, lembre-se que esta é apenas a parte um.


Junto com isso, o longa-metragem ainda tem uma ação sob medida e que deixa qualquer outro filme do gênero babando de inveja -- menos John Wick 4. Uma perseguição na Itália, que traz a mesma essência da sequência no país europeu em Velozes e Furiosos 10, é uma aula de como dirigir uma corrida de carros: sem excessos de planos focados nas rodas e no câmbio, mas no ambiente e até no semblante dos personagens. A cena da batida, logo no início, é marcante.


Claro que existem alguns problemas: é o caso de Esai Morales, um ator que simplesmente não chega perto da ameaça da Entidade, e alguns tropeços do roteiro. Por exemplo: nos 30 minutos iniciais, em apresentar três vezes a missão do filme — uma naquela tradicional convocação de Ethan Hunt, outra com figurões do governo norte-americano e uma última com os parceiros do protagonista. Mostra uma certa fragilidade na história, que é alongada sem muito motivo de ser.


Essas escorregadas de roteiro, ainda que impeçam o filme de ser o melhor da saga até agora, não chegam nem perto de diminuir a qualidade do longa. Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1 consegue deixar qualquer espectador absorto na história, muitas vezes sentado na ponta da cadeira, torcendo pelos personagens na tela. Ainda há de se descobrir se vai bem de bilheteria, em um ano que tudo está naufragando, mas fica a sensação de que Tom Cruise pode ser de novo “a salvação de Hollywood”. Afinal, se existe um cinema empolgante, é este.

 

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