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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Moacir' é documentário humano, poético e sensível


Moacir dos Santos morava no Brasil, mas decidiu se arriscar. De mala e cuia, foi para a Argentina tentar ser cantor como seu ídolo maior, Carlos Gardel. Em 1984 foi naturalizado na terra dos "hermanos", mas logo teve a primeira reviravolta em sua vida: foi diagnosticado com esquizofrenia e internado num hospital público psiquiátrico da Argentina. Parecia o fim do sonho. Mas ali entrou em contato com o cineasta Tomas Lipgot, para quem apresentou seus dotes artísticos e expressou seu sonho de estrelar um filme.

Desse encontro, então, nasceu Moacir: O Santista que Conquistou os Argentinos, terceiro longa sobre ele que chega aos cinemas nesta quinta, 8, numa boa mistura de documentário e ficção. Comandado por Lipgot, o filme mostra bastidores de uma possível produção estrelada por Moacir, enquanto também mostra a vida íntima desse homem que não cansa de se arriscar, mesmo sendo diagnosticado com tão complexa doença. É um filme humano, recheado de poesia e com muita sensibilidade, que não deixa o personagem cair no ridículo ou na piada.

O grande ponto que faz o filme trazer esse sentimento é o forte elo que parece ter sido criado entre Tomas e Moacir. Ainda que haja alguns entreveros durante as filmagens do longa, como o sumiço do protagonista durante uma gravação complicada, nada atrapalha a história que está sendo contada e desnudada na tela. Moacir, ainda que não se comporte da maneira que todos esperam, é uma pessoa que exala criatividade, exuberância. Os cabelos a la Cauby Peixoto, as roupas que lembram Zé Bonitinho. Tudo ali é a inteligente construção de um personagem que se mistura com Moacir e a sua essência.

Também é interessante notar como o filme, terceiro de uma trilogia sobre o personagem e que teve seu início em 2012, ajuda a fazer uma viagem pelos pensamentos e ações de Moacir. Não há, aqui, meio-termo ou palavras ditas pela metade. Tudo é explorado, de maneira sensível. Disso, porém, também há um problema a mais: a lentidão do filme. Tudo é retratado de maneira muito vagarosa, às vezes repetitiva, tirando a cadência do longa-metragem, que se mostra ágil até sua primeira metade.

Moacir III é um bom filme sobre um personagem forte e criativo, sobre psicologia de pessoas que deixam a sua criatividade saltar sobre a personalidade, sobre a vida. Cenas como a de Moacir travestido cantando num bar, por exemplo, são fortes, marcantes, icônicas. Boa parceria entre Brasil e Argentina que ajudou a resgatar a memória de uma figura que pode ser chamada de verdadeiro artista. Vale a pena conhecer não apenas esse terceiro capítulo, como os outros já lançados por Lipgot. Ótima produção de resgate artístico.

 

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