top of page
Buscar
  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Norma', da Netflix, não consegue ir além do retrato banal da classe média



Norma (Mercedes Morán) está cansada. Certo dia, logo após fazer compras no mercado, chega em casa e descobre que sua empregada está de saída -- arranjou um emprego melhor. É neste momento que ela vê um inferno astral chegando em sua vida. Vai ter que fazer tudo sozinha e, pior, ainda tem que cuidar da mãe idosa, lidar com o marido sem graça e encarar dores dessa crise de meia-idade que se abate, encontrando saída apenas no uso recreativo da maconha.


Essa é a história de Norma, longa-metragem original da Netflix e que chega ao catálogo nesta sexta-feira, 22. Dirigido por Santiago Giralt (Primavera), que ainda assina o roteiro ao lado da protagonista, o longa-metragem busca ser um retrato atento -- e às vezes curioso e engraçado -- sobre essa mulher em uma clara crise de meia-idade tentando lidar com as suas frustrações.


Difícil não lembrar do filme Gloria, também sobre uma mulher tentando viver. O problema é que o filme chileno é eficaz em segurar toda a história no desenvolvimento dessa personagem, enquanto Norma não consegue o mesmo feito. O filme argentino se volta ao retrato da classe média da Argentina, tentando fazer um retrato esperto sobre as idiossincrasias dessa classe econômica e social. O problema é que, em última instância, essa dicotomia não funciona.



Afinal, ou o roteiro celebra Norma, que é uma típica representante de classe média burguesa, ou questiona essa mesma classe. Não dá pra avançar com as duas propostas. A maconha, que também surge como uma sacada ousada, acaba banalizada em um registro bastante formal. E o pior de tudo: o drama todo de Norma se ancora na partida da empregada, como se não pudesse substituir. No final, a classe pobre é que causa o drama dessa classe média decadente.


Há quem aponte que Norma é uma grande sátira dessa burguesia. Mas, de novo, é evidente como o filme tenta vitimizar a protagonista o tempo todo, principalmente com a revelação que surge nos últimos 10 minutos. Ela é uma coitada nos olhos de Giralt. Tudo por causa da empregada, talvez, já que Norma começa a tentar viver, nem sempre de maneira eficaz, após a demissão da faz-tudo. É uma visão bastante elitista e que, mesmo sem querer, atrapalha.


Norma, assim, é um filme que poderia ser bom -- um novo Glória, atualizado 10 anos depois, focado na mulher moderna. Mas não consegue. As bases do drama dessa personagem contribuem para um retrato estereotipado, cansativo, batido e que, acima de tudo, não consegue criar conexão com o público. Faltou mais sensibilidade social para um filme que vai além.


 

1 comentário
bottom of page