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Giulia Costa

Crítica: 'O Ano de 1985' vai além dos estereótipos, mas sem inovações


O Ano de 1985 foi dirigido e roteirizado pelo cineasta malaio Yan Ten e é uma extensão do seu curta 1985, lançado em 2016. O filme narra a história de Adrian (Cory Michael Smith), um jovem homossexual que foi morar em Nova York para trabalhar com publicidade. Ao descobrir que possui uma doença terminal, ele aproveita suas supostas férias de Natal para visitar a família no Texas, seu estado de origem, após três anos sem vê-la.

Como é possível perceber pelo título, o longa-metragem se passa nos coloridos e extravagantes anos 80. No entanto, o filme foge completamente da estética predominante daquela época: é em preto e branco, sem grandes artifícios cinematográficos e sua trilha sonora praticamente se resume a músicas delicadas tocadas no piano. O contraste visual e sonoro leva o espectador a refletir sobre um lado obscuro daquela década, como a epidemia de Aids, doença da qual o personagem principal é vítima. É como se desde o início Adrien já estivesse de luto.

Outro aspecto interessante e bonito trabalhado no longa é a desconstrução de estereótipos. A típica família conservadora e religiosa - com a qual Adrian passou quase toda a sua vida e sempre acreditou que nunca iria ser aceito por ela - mostra que possui dimensões além da imagem tradicionalista que transmite.

O pai republicano e “machão” (Michael Chiklies) revela seu forte desejo de se reconectar com os filhos e ajudá-los em momentos de necessidade. A mãe afetuosa e dona de casa (Virginia Madsen) expressa seu interesse por política confidenciando a Adrian que votou em um candidato democrata nas eleições daquele ano, rebelando-se secretamente contra às preferências do marido. Já seu irmão pré-adolescente (Aiden Langford) conta que gosta de música Pop e possui uma sensibilidade aguçada, características geralmente consideradas atípicas para garotos de sua idade.

Todos os personagens possuem seus próprios conflitos internos. Adrien luta para encontrar uma forma de contar a sua família sobre sua orientação sexual, além de tentar superar as perdas que a Aids causou em sua vida; seu pai deseja se tornar mais disponível emocionalmente para os filhos; sua mãe almeja que suas opiniões sejam ouvidas e consideradas; seu irmão tenta lidar com problemas de autoestima; e a amiga (Jamie Chung) se sente abandonada por Adrian e enfrenta preconceitos por ser descendente de coreanos. O filme por completo faz um bom trabalho ao mostrar que personagens de premissas “clichês” possuem uma profundidade que necessita ser explorada.

Apesar das discussões sobre conservadorismo e homofobia serem atuais e de extrema relevância, o longa não é um filme inovador. Já existe uma grande quantidade de filmes protagonizados por personagens LGBT’s que giram em torno de temáticas relacionadas a preconceito e morte. É necessário abordar novos ângulos das histórias dessas minorias que são frequentemente representadas no universo cinematográfico como tendo vidas sempre extremamente sofridas ou como coadjuvantes superficiais e engraçados.

O Ano de 1985 é um filme bonito que levanta aspectos sociais importantes de serem discutidos, porém ainda deixa uma sensação de que precisava de algo mais para ser considerado excelente. A atmosfera delicada e melancólica não é o suficiente para o espectador mergulhar profundamente na história e se conectar com os personagens. É um filme bonito, sensível, mas sem inovações.

 

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