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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: ‘O Destino de Uma Nação’ arrepia, ainda que lento demais


Nos últimos meses, o espectador pode encontrar nos cinemas e na televisão três atuações diferentes da figura de Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido ao longo da 2ª Guerra Mundial. A primeira delas foi a estupenda interpretação do veterano John Lithgow na série The Crown, da Netflix. Depois, Brian Cox encarnou o político no fraquíssimo telefilme Churchill. Agora, Gary Oldman imortaliza a figura de Churchill em O Destino de uma Nação, concorrente ao Oscar de Melhor Filme.

A trama, assim como as outras duas produções, faz um recorte preciso e histórico em cima de Churchill. No caso deste filme, acompanhamos a chegada do político ao cargo maior do Reino Unido num momento delicado. De um lado, o ditador Adolph Hitler avança sobre os países da Europa Ocidental e causa terror. Do outro, a Inglaterra se vê fragilizada após um fraco comando de Neville Chamberlain (Ronald Pickup). É Churchill, então, que precisará reerguer os ânimos do País.

A direção é do irregular Joe Wright, que já acertou na mosca com Orgulho e Preconceito e Desejo e Reparação, mas que também errou feio com o péssimo Pan. Aqui, seus resultados são mistos. Há acertos, como um posicionamento de câmera interessante que filma cenas do alto, dando uma visão ampla sobre a geografia de Londres e sobre a organização das pessoas nessa época turbulenta. No entanto, há erros como cenas bregas demais -- e que iremos falar daqui a pouco.

Há, também, um outro acerto que traz dinâmica ao filme: a fotografia. Comandada pelo incrível Bruno Delbonnel (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain), as cenas fazem jus ao nome original do longa (Darkest Hour) e cria bons contrastes entre claro e escuro, mostrando em imagens a luta que era travada em todo o mundo. Sem dúvidas, merece a indicação que recebeu no Oscar. Só não deve ganhar por conta da fotografia esplêndida de Roger Deakins em Blade Runner 2049.

É visível que Wright fez este filme para Gary Oldman brilhar. A trama, a câmera e o modo que a história é contada são inteiramente direcionados para que o ator britânico tenha bons momentos em tela -- e funciona perfeitamente bem. Oldman está um espetáculo. A maquiagem não o atrapalha, direcionando toda força interpretativa ao gestual e adotando maneirismos do político britânico. O espectador realmente crê que está vendo a história mundial sendo feita. Merece o Oscar.

Quanto ao resto do elenco, há pouco brilho já que o longa gira em torno de Oldman. Pickup e Stephen Dillane (como Halifax) servem como antagonistas, mas não contam com grande peso na trama -- afinal, o grande vilão é Hitler. Lily James, infelizmente, não encontra o seu espaço e não consegue repetir as boas atuações vistas em The Exception e Em Ritmo de Fuga. Mas é Kristin Scott Thomas a mais desperdiçada de todo elenco, impedida de dar camadas à esposa de Winston.

Quanto ao roteiro, há dois problemas. O primeiro é natural: por girar em torno de Oldman, o filme acaba perdendo fôlego em alguns momentos e se torna demasiadamente lento. Falta algo ali -- talvez a presença massiva de outro personagem. O longa, então, começa bem e vai perdendo o ar. Só no final que o recupera, arrepiando o espectador com um discurso histórico e muito bem filmado.

O outro problema são umas duas cenas que beiram o brega e tiram o espectador da história, mostrando que Joe Wright ainda precisa ser lapidado para as grandes produções. Uma delas, no metrô, tinha potencial de ser a melhor de todo o filme, mas é estragada com atores secundários fracos e uma série de diálogos que não convencem, tornando-a artificial. Quase estraga o final, que é apoteótico e deixa o filme numa nota alta. Quase.

O Destino de Uma Nação é um filme inteiramente calcado na atuação de Oldman -- para o bom e mau motivo. Afinal, o ator britânico está inspirado e consegue criar uma interpretação inigualável à figura mais importante do Reino Unido. Do outro, porém, fica a sensação de que faltou algo e de que o filme, em termos de direção, poderia ser um pouco mais redondo e afinado. Ainda assim, porém, é um bom filme do Oscar e que deve levar, merecidamente, o prêmio de Melhor Ator.

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