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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'O Gênio e o Louco' é bom filme de época sobre dicionário Oxford


Você já parou para pensar no trabalho que deve ter sido a elaboração dos dicionários que existem ao redor de todo o mundo? O dicionário brasileiro Aurélio, por exemplo, tem 115.243 vocábulos divididos em cerca de 2,2 mil páginas. Já o Oxford, o mais tradicional da língua inglesa, conta com 301.100 verbetes -- praticamente o dobro de seu parente tupiniquim. E é a história de criação deste último que norteia a trama do filme O Gênio e o Louco, produção inglesa que chega aos cinemas nesta quinta, 25.

Dirigido pelo estreante Farhad Safinia, o longa-metragem conta a história real de dois homens ambiciosos que tentam concluir um dos maiores projetos do mundo: a criação do Dicionário Oxford. Um deles é o Professor James Murray (Mel Gibson), que tomou a decisão de iniciar o compilado, em 1857, mesmo com acadêmicos não acreditando na possibilidade de realizá-la. O outro é o dr. W.C. Minor (Sean Penn), que contribuiu com 10 mil verbetes para o dicionário mesmo estando internado num hospício para criminosos.

O filme tinha tudo para ser uma chatice sem fim. Afinal, a trama circunda duas situações principais: a do professor Murray tentando organizar verbetes numa espécie de escritório-biblioteca; e a de Minor ficando cada vez mais maluco na prisão, por conta de procedimentos invasivos e situações degradantes. E, ainda por cima, a maior parte da comunicação entre eles ocorre apenas por cartas. É um marasmo narrativo, quase sem nenhum tipo de ação ou acontecimento que proporcione emoção fácil ao público.

Mas os roteiristas John Boorman (Rainha & País), Todd Komarnicki (Sully: O Herói do Rio Hudson) e o próprio Safinia conseguem reverter isso e criar uma trama de época interessante. Usando a personagem de Natalie Dormer (Game of Thrones) com tempero, o filme cria um dinamismo que instiga e provoca. É interessante saber os bastidores de um dicionário, algo tão pouco comentado, e todas as intrigas que acontecem -- ainda que uma delas, envolvendo acadêmicos de Oxford, seja sem graça e tire peso do filme.

Os atores também ajudam a elevar a qualidade do filme. Ainda que Mel Gibson (Mad Max) e Sean Penn (Milk) sejam conhecidos pela personalidade explosiva e por casos de abuso e até agressão física -- Sean Penn já foi detido por espancar sua ex-namorada, a cantora Madonna --, o diretor conseguiu contornar ânimos e, se houve algum problema nos bastidores, não transpareceu na produção. A única pedra no caminho, então, é o próprio histórico dos atores, que causam certo desconforto por serem vistos em cena.

Dos dois, aliás, que se destaca é Sean Penn. Sumido das telonas desde 2015, ele se entrega com total comprometimento ao personagem, que sofre de transtornos psicológicos. É um personagem forte, magnético, e que traz um diferencial ao longa.

No entanto, apesar desses bons pontos, vale ressaltar que O Gênio e o Louco é um filme apenas correto. Não há grandes arroubos de criatividade, momentos espetacularmente marcantes. É um filme que faz o que se propõe e não vai além. É um filme de época bem produzido, bem atuado e com um roteiro interessante que não surpreende. Dado os roteiristas interessados em "levantar" a história, produtores poderiam ter cutucado um pouco mais a criatividade para algo espetacular. Desse jeito, é agradável. Pessoas que se interessam por histórias marcantes, de época, sem dúvidas vão se divertir à beça.

 

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