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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'O Jardim Secreto de Mariana' mostra o amor em seu estado bruto

Atualizado: 29 de set. de 2021


Geralmente, quando falamos de filmes de romance, pensamos em histórias açucaradas, até mesmo um tanto quanto fantasiosas, feitas para causar suspiros em homens e mulheres por aí. O Jardim Secreto de Mariana, ainda que tenha pitadas de drama, é essencialmente um romance sobre um homem (Gustavo Vaz) e uma mulher (Andréia Horta) vivendo as idas e vindas de um amor. Só que Sérgio Rezende, acertadamente, deixou o açúcar de lado e focou apenas no bruto.


O longa-metragem, afinal, não está nem um pouco preocupado em falar sobre essas fantasias que povoam as telas de vez em quando. O Jardim Secreto de Mariana, na verdade, traz aspereza ao falar sobre esse casal que vive feliz numa região rural, cercado por natureza, flores e frutos. No entanto, rapidamente, as coisas começam a desandar quando descobrem que não podem ter filhos. A natureza, ali, parece vandalizada. Logo o casal passa a seguir por caminhos instintivos.


Pode não ter nada de romance aqui -- falando assim, é bem mais um drama e ponto final. Mas nada disso. Sérgio Rezende, cineasta por trás de O Paciente e Guerra de Canudos, brinca o tempo todo com os limites do gênero. É um filme suave, sem ser açucarada, mas com uma brutalidade incutida em sua história que choca, que provoca, que instiga. Há uma violência escondida, mas que nunca chega na superfície. Não são à toa as comparações com as flores e sua sexualidade brutal.

Horta (Elis) está apaixonante e absolutamente crível como essa mulher no meio de uma tormenta, em que basicamente tem pouco realmente a fazer. Do outro lado, Gustavo Vaz (Depois a Louca Sou Eu) exagera um pouco no tom, em alguns momentos até mesmo perdendo levemente a naturalidade exigida de seu personagem, mas reconquistando-a logo depois. Talvez por Andréia Horta estar tão bem em cena, a atuação de Gustavo acaba um pouco mais apagada.


E é nesse ponto que precisamos falar como é questionável a decisão do roteiro em trazer essa história toda sob o ponto de vista do homem, do personagem de Vaz. Não faz sentido algum. Dentro do que a trama se propõe, assim como seu desfecho e uma reviravolta um tanto quanto chocante, seria muito mais plausível se nós, como público, fizéssemos esse mergulho a partir do olhar de Mariana. Seria uma história com muito mais sentido e com muito mais possibilidades.


Do olhar do marido, que não sofreu tanto quanto sua esposa, não encontramos nada. É uma espécie de vazio que pode abrir espaço, inclusive, para a problematização do longa-metragem. Uma pena, pois não há dúvidas de que a produção teria muito mais força se fosse com esse outro olhar. Ainda assim, O Jardim Secreto de Mariana é uma boa aposta do cinema nacional e que só comprova como o Brasil sabe, de diversas formas, contar boas histórias por aí.

 

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