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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'O Retorno de Ben' é irregular, mas forte e necessário


Querido Menino e O Retorno de Ben são filmes extremamente similares. Ambos lançados em 2018, potenciais ao Oscar e falando sobre o relacionamento de filhos dependentes químicos com seus pais -- no primeiro, Steve Carell; no outro, Julia Roberts. Não é à toa que eles acabaram se anulando na competição e sendo injustamente ignorados em todas as categorias. Até agora não dá pra entender a total esnobada dos atores Timothée Chalamet e Lucas Hedges na categoria de Ator Coadjuvante, dando lugar para atores que pouco apresentaram em seus papéis.

E depois de Querido Menino fazer uma boa passagem nos cinemas brasileiros, com 8,1 mil ingressos vendidos e boas análises da imprensa especializada, chegou a hora de O Retorno de Ben passar pelo crivo de público e crítica. O filme, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 21, é inferior ao seu irmão siamês. Há menos intensidade, a direção de Peter Hedges não é tão ousada e criativa quanto a de Felix Van Groeningen. Mas, ainda assim, o longa com Lucas Hedges e Julia Roberts merece receber sua atenção.

Primeiro motivo: a trama é interessante. Ao contrário de Querido Menino, que acompanha uma relação de vários dias envolvendo pai e filho dependente, O Retorno de Ben foca na volta do adolescente Ben (Lucas Hedges) para casa após um período de 77 dias de desintoxicação. É a deixa para a mãe, Holly (Julia Roberts), entrar num processo complicado. Não pode deixar o filho sozinho, não pode confiar em todas suas ações, precisa saber tudo que está fazendo. É caótico e dá para sentir a dor dessa mãe.

Por se passar em único dia, O Retorno de Ben se torna mais angustiante. Você vê o rapaz entrando em contato com vários gatilhos que podem causar uma recaída ao vício e a passagem de tempo é mais ordenada do que o outro filme. Ponto para o diretor Peter Hedges, pai de Lucas e diretor de Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada, que soube dar a ambientação necessária e, principalmente, conduzir Roberts (Uma Linda Mulher) e Hedges (Manchester à Beira-Mar) em suas excelentes e difíceis interpretações.

Falando sobre os atores, aliás, vale ressaltar que não só Hedges merecia ter sido lembrado na categoria de Ator Coadjuvante. Julia Roberts também merecia ter recebido uma indicação em Melhor Atriz -- bem melhor do que Lady Gaga em Nasce uma Estrela, por exemplo. Ela consegue unir todo o drama e esperança de sua personagem, criando boa química com Hedges em cena. Seu melhor protagonismo desde Comer, Rezar e Amar, de 2010. De resto, destaque positivo pros coadjuvantes Kathryn Newton (Big Little Lies) e Courtney B. Vance (Law & Order). Aparecem pouco, mas funcionam em cena.

O grande problema de O Retorno de Ben, que o faz ser um filme "menor" que Querido Menino, é a condução do final do segundo e grande parte do terceiro ato. O filme esquece que é um drama íntimo e sensível e parte para uma espécie de thriller. Os personagens de Julia Roberts e Lucas Hedges se separam e passam a trilhar caminhos distintos. A química dos dois, tão boa e marcante, some. A energia do filme acaba dissipando. Qualidade do longa-metragem, dessa maneira, despenca vertiginosamente.

O filme, dessa maneira, só volta a crescer nas três últimas cenas, quando Roberts e Hedges se reencontram. Um exemplo de como o diretor errou a mão, assim como o roteiro dele próprio, que não conseguiu sentir essa quebra de ritmo. Não seria uma correção narrativa simples, mas dava pra ser feito pelo diretor durante a gravação.

O Retorno de Ben é um filme de temática sensível, delicada e necessária. É louvável a química de Julia Roberts e Lucas Hedges, que conseguem emocionar mesmo com direção e roteiro errando a mão. Se não fosse tão irregular, sem dúvidas teria abocanhado algumas indicações no Oscar -- e, principalmente, se um outro filme não o tivesse anulado completamente. Vale o ingresso para os que buscam histórias sensíveis, emocionantes, familiares. É irregular, sim. Mas, no final, não atrapalha a emoção.

 
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