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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Passageiro Acidental' é boa ficção científica da Netflix


Logo na primeira cena de Passageiro Acidental, entendemos as dinâmicas de uma tripulação rumo à Marte. A capitã Marina (Toni Collette) tem pulso firme e quer manter tudo sob um rígido controle. A médica Zoe Levenson (Anna Kendrick) é preocupada com os colegas ao seu redor, mesmo impactada pela viagem. E o biólogo David (Daniel Dae Kim) está focada em sua missão.


A dinâmica dessa tripulação rumo ao planeta vermelho, porém, é alterada quando eles descobrem que Michael Adams (Shamier Anderson) sem querer, em um acidente pouquíssimo explicado, embarcou junto com eles na nave. Aí entra o dilema: a viagem é programada para no máximo três pessoas. Duas é o essencial. Como sobreviver com um passageiro a mais?


A partir desse dilema, o diretor Joe Penna (Ártico) volta a explorar ambientes de risco depois de colocar Mads Mikkelsen em apuros no gelo. Aqui, em uma mistura de Gravidade, Perdido em Marte e Alien, somos colocados no âmago claustrofóbico desse grupo em situações que fogem do compreensível para a própria tripulação. É um dilema forte, interessante e provocativo.


O filme fica ainda mais rico, porém, quando fazemos uma comparação direta com Alien. Clássico da ficção científica, a produção foi a primeira a inserir a história de tripulantes indesejados em naves espaciais. Oras, não há dúvidas de que a decisão de Penna em escalar Shamier Anderson como o passageiro a mais tem comentários sociais e raciais profundos, bem delimitados.

O elenco também ajuda a alavancar mais a força da história. Collette (Hereditário) traz a potência necessária para a personagem da capitã, enquanto Dae Kim (Lost) é uma espécie de motor intelectual da nave. Anderson (Raça) acrescenta paixão e humanidade. Mas quem rouba a cena é Anna Kendrick (A Escolha Perfeita), no papel mais maduro e desafiador de sua carreira.


Penna, ao longo do filme, também tem vários acertos no posto de direção: a decisão, bem acertada, de não mostrar absolutamente nada de fora da nave; o tom conspiratório adotado em alguns momentos; o medo do desconhecido dentro e fora da espaçonave. Tudo isso vai acrescentando camadas à história, ainda mais quando lembramos dos paralelos óbvios de Alien.


O grande deslize do filme, assim, acaba sendo o final. O roteiro de Penna e de Ryan Morrison (também de Ártico) acaba escapando desses comentários sociais e raciais e apostando em um final mais emocional, impactante e não muito bem explicado. Oras, o que realmente motivou aquela decisão, quase irracional? É um final forte, claro. Mas poderia ter sido mais poderoso.


Faltou à Penna o desejo de dar continuidade às sensações que despertou ao longo da história. Ainda assim, Passageiro Acidental é um filme angustiante, forte, com uma potência necessária em histórias do tipo. Uma trama de sobrevivência espacial que carrega quase tanta verdade e emoção quanto Ad Astra. Um daqueles acertos raros da Netflix, com boas reflexões.

 
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