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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Peréio, Eu Te Odeio' diverte, mas falta foco


Paulo César Peréio é um ator completamente fora dos padrões. Xinga, foge do texto, fala besteira, se revolta contra seus diretores -- não à toa, conta com uma legião de pessoas que o detesta. Por isso, não poderia esperar menos do que ódio e bons causos no documentário Peréio, Eu Te Odeio, que fez sua primeira exibição na Mostra de SP e estreia logo no circuito.


Dirigido por Allan Sieber, o documentário tem uma história longuíssima. A ideia surgiu no início dos anos 2000, quando o cineasta convidou Peréio para dublar em um de seus curtas. No entanto, o tempo foi passando e Sieber foi se complicando cada vez mais -- veio a pandemia, a falta de dinheiro, a dificuldade em não saber como terminar o filme. Até que, agora, chega à vida.


Como o próprio nome sugere, Peréio, Eu Te Odeio reúne mais depoimentos pouco elogiosos do que, ao contrário do que acontece, relatos que exaltam a pessoa. O longa-metragem não se furta de contar histórias escabrosas sobre o artista, enquanto, por meio de uma edição bem sacada, faz recortes com trabalhos de Peréio. É divertido como tudo vai se conectando e se misturando.

No começo, é difícil segurar o riso. Algumas histórias estão ali pra fazer a gente chorar de rir -- a contada pelo amigo Stepan Nercessian é hilária e fez todo mundo na sala gargalhar. São os típicos "causos" que ajudam a transformar Peréio nessa figura praticamente mitológica. Lenda.


No entanto, Peréio, Eu Te Odeio peca por algo central: não tem uma tese. Ele gosta de falar sobre como Peréio é "maldito", como fez besteira, como usou drogas e outras coisas do tipo. É divertido até o momento que isso se torna extremamente repetitivo. O filme fica andando em círculos e parece não ter mais o que dizer. Certo momento, começa a falar sobre como Peréio está preso nessa mitologia ao redor de seu nome, como ficou refém disso, mas não consegue ir além.


Falta um objetivo mais concreto do que apenas contar histórias. Celebração, talvez? Pode ser. Mas ainda assim o documentário não chega lá. Afinal, por exemplo, há um momento em que o filme fala sobre a relação de Peréio com mulheres. Há questões tóxicas ali, que beiram o abusivo, e que merecem luz aos tempos de hoje. Essa discussão, porém, fica marginalizada.


Peréio, Eu Te Odeio, assim, quer ser tão divertido, tão "da galera", que não se aprofunda e não encontra algo a dizer realmente para além dos causos. Não é ruim, vale dizer: é um documentário com momentos divertidos e que mostra bastante quem é essa figura tão essencial no cinema nacional. Mas que poderia ser um filme mais ousado, não há dúvidas.

 

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