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Crítica: 'Pinóquio' é boa adaptação, mas que não se decide


Apesar de ser uma história que nasceu no livro de Carlo Collodi, em 1883, Pinóquio acabou caindo no carinho do público com a animação clássica da Disney. Virou um marco da cultura pop. Agora, em um momento em que essas histórias começam a ganhar remakes de todos lados e formas, chega a vez da história do menino de madeira ser adaptado no bonito Pinóquio.


Sem nenhuma conexão com a Disney, que está preparando seu próprio remake, este longa-metragem de Matteo Garrone (de Dogman e O Conto de Todos os Contos) se afasta um pouco da interpretação da Disney sobre a história e bebe diretamente da fonte da história de Carlo Collodi. Não foge das bizarrices do que há na história original, nem mesmo tenta adaptar o ritmo.


E isso causa duas reações imediatas. Primeiramente, a estética do filme salta aos olhos. A aposta em efeitos práticos e um design de produção elegante, tal qual vimos em O Conto de Todos os Contos, ajuda a elevar a trama para um outro nível. Há força nas cenas e na ambientação, assim como na construção estética dos personagens que tomam com cor a tela.

Além disso, há a questão do ritmo. Como dito, Garrone -- que também assina o roteiro ao lado de Massimo Ceccherini -- respeita ao máximo a obra de Collodi. Com isso, apesar de assistirmos uma obra muito mais recheada e completa no desenvolvimento dos personagens e das situações, acabamos enfrentando um ritmo cíclico demais, cansativo. Pinóquio fica chato.


Seria mais interessante se o filme seguisse alguns passos da animação e encurtasse alguns caminhos. Vale dizer, também, que é uma pena que Garrone não se decida com a estética geral da obra. O filme é bizarro, claro. Mas não tanto quanto poderia ser. Fica naquele "vale da estranheza", sem nunca se decidir entre o público infantil e aquele que busca o estranho daqui.


Oras, seria interessante colocar algumas questões mais existenciais nas costas de Pinóquio, assim como explorar um pouco mais o drama solitário de Geppetto (vivido de maneira esquecível por Roberto Benigni). A sensação, assim, é que crianças ficarão um pouco assustadas com o visual dos personagens, enquanto os mais velhos vão se entediar logo.


Pinóquio, assim, é um filme interessante. Bonito, esteticamente curioso. Mas a sensação é de que o diretor poderia ter ido além. Como fez em Dogman, poderia ter sido mais provocativo, mais ousado, mais polêmico. Poderia ter ido nas raízes dos contos de fadas, trazendo talvez um Pinóquio mais "humano", assim como um Geppetto mais sofrível. Uma pena. Poderia ser melhor.

 
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