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Crítica: 'Príncipe Lu e a Lenda do Dragão' é bom produto - e só



Falei aqui, na ocasião de lançamento de Os Aventureiros: A Origem, que Luccas Neto faz bons produtos, não bons filmes. Suas produções audiovisuais não são arte, mas sim produtos com foco em públicos bem específicos, buscando reproduzir manias de mercado e de movimentos que deram certo. Nunca busca surpreender. Afinal, mesmo sendo uma produção infantojuvenil, isso é um dever -- não querendo ser nostálgico, mas sendo, vide Castelo Rá-Tim-Bum e afins.


Essa sensação se repete com Príncipe Lu e a Lenda do Dragão, longa-metragem que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 25 de janeiro. Adaptado da novelinha que já acontece no canal no YouTube de Neto, o longa-metragem tem muito mais valor de produção do que o filme lançado no ano passado -- os cenários são mais grandiosos, o figurino é bem feito e tem um elenco de primeira, com nomes como Renato Aragão, Tadeu Mello, dentre outros. É muito mais filme.


Mas, ainda assim, não é mais cinema. Príncipe Lu e a Lenda do Dragão possui o mesmo problema do outro filme: não há qualquer arroubo criativo em absolutamente nada do que é contado. Nem na história, nem na forma do diretor Leandro Neri filmar, nem nas performances dos atores. Tudo é plástico demais, sem que o filme se permita ir além em novas possibilidades. De novo: o público pode ser infantil, mas isso não significa que o conteúdo precisa ser raso.



Ontem, em conversa que tive com Luccas para o Estadão, isso ficou ainda mais evidente. Ele tem uma lógica quase que um fordismo: há uma clareza de qual é o produto que querem alcançar e, para isso, trabalham apenas com o objetivo de fazer o básico do básico -- aqui, a única coisa que tem algum destaque a mais é o design de produção. Em uma fábrica em que todos os produtos vendem bem, não há uma busca para melhorias e, claro, para surpresas.


Ao pensar em Luccas Neto como a Xuxa do século XXI, por isso, bate uma certa tristeza. A Rainha dos Baixinhos já fazia algo similar há DÉCADAS atrás. Em um só programa de histórias, passeava entre eras, mundos, contextos. Ainda que tivesse certa previsibilidade em seu conteúdo, trabalhava muito na busca de tirar as crianças de uma zona confortável. Não é isso que Luccas Neto faz: ele apenas adapta seus formatos e estruturas para diferentes universos.


Além disso, vale ressaltar como Príncipe Lu e a Lenda do Dragão tem outros problemas. A infantilidade exagerada de Luccas, que já é lugar-comum de seus vídeos, mas que está ainda mais irritante aqui; a parte musical toda do longa-metragem que traz alguns dos piores vocais dos últimos anos; e a preguiça com a história toda em si, um conto de fadas óbvio e irritante.


Como falei em Os Aventureiros: A Origem, o público que gosta e consome esse conteúdo vai gostar do que vê aqui e até se surpreender com a grandiosidade da produção. Mas qualquer pessoa de fora, que não é o público-alvo desse nicho absolutamente focado do filme-produto, vai se sentir incomodado com tamanha falta de visão artística. Afinal, filmes como esse, que não privilegiam o novo, podem fazer sucesso no momento. Mas nunca ficam para sempre.


 

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