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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Profile' é um dos filmes mais surpreendentes de 2022


"Filme de tela" é o nome dado, no bom e velho português, para aquelas produções que se passam única e exclusivamente em uma tela de computador. É o caso de Buscando, excelente suspense da Sony Pictures, e o filme de terror Amizade Desfeita. Em comum entre todos eles, além do estilo de filmagem, está um homem: Timur Bekmambetov. Ele produziu Buscando e Amizade Desfeita e, agora, comanda seu primeiro filme do subgênero com o ótimo Profile.


Assim como esses outros "filmes de tela", o longa-metragem se passa unicamente em uma tela de computador. No centro da história, enquanto isso, está a jornalista freelancer Amy Whitaker (Valene Kane). Ela, em busca de uma nova história para contar, decide investigar como o Estado Islâmico recruta jovens mulheres à sua causa. Para isso, ela precisa se disfarçar de muçulmana convertida para convencer o terrorista Bilel Al-Britani (Shazad Latif) a revelar seus segredos.


Tenso, o filme mostra como Bekmambetov possui domínio dessa linguagem: desde o começo há preocupação com o que ela está fazendo. Afinal, ela está lidando com terroristas do Estado Islâmico, e colocando toda sua vida em risco por conta de uma história, de uma matéria. É uma premissa interessante por si só e que ganha ainda mais força quando sabemos que é inspirada na história real de uma jornalista, que relatou sua experiência no livro Na Pele de uma Jihadista.


A naturalidade da situação, muito por conta do formato que lembra um documentário participativo, ajuda a colocar o espectador dentro da história. As atuações de Kane (The Fall) e Latif (O Passageiro) também contribuem para o clima geral do longa-metragem, tornando tudo mais natural -- se não fosse isso, afinal, o longa-metragem nunca sairia de um espaço de mesmice complicado e que não despertaria, em momento algum, a atenção do espectador.


A grande questão aqui está na encruzilhada moral que Profile se enfia. Por um lado, o roteiro de Bekmambetov, Britt Poulton e Olga Kharina emburrece demais a protagonista, fazendo-a tomar decisões estúpidas em prol da necessidade de um roteiro repleto de coincidências. Por outro, o texto de Profile traz algumas questões morais questionáveis, ainda que com certa redenção ao final. Fica um certo desconforto no ar, principalmente pela demora em questionar esses pontos.


Será que essas decisões seriam o melhor caminho para retratar o terrorismo? Será que essa abordagem da protagonista é algo que deveria ter tal destaque? Faz sentido a demora em lançar o longa-metragem, com Bekmambetov segurança quase quatro anos para o lançamento. Mas, apesar desses tropeços (e da breguice da fala final!), Profile surpreende e faz refletir. Ao final, é difícil não sentir um incômodo que coloca o espectador à frente, questionando o que há ao redor.

 

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