
Foi em 2013 que o indiano Ritesh Batra se apresentou ao mundo com o delicioso The Lunchbox, filme em que dois indianos se correspondem amorosamente por meio de marmitas. Depois disso, o cineasta ficou tão popular que acabou entrando de cabeça no cinema internacional. Lançou o mediano O Sentindo do Fim e, em seguida, o bonitinho Nossas Noites, da Netflix. Agora, porém, Batra se volta novamente à sua origem com o belo Retrato do Amor, filme que bebe desses encontros fortuitos da Índia.
A trama do longa-metragem acompanha a jornada de Rafi (Nawazuddin Siddiqui), um homem que trabalha como fotógrafo em pontos turísticos da Índia e que não tem tempo para relacionamentos. Afinal, ele precisa pagar uma dívida antiga de seu falecido pai para que a avó não perca sua casa. No entanto, ao mesmo tempo, ele é pressionado pela matriarca para achar uma boa esposa. É aí, no desespero, que ele decide mentir, pegar a foto de uma moça qualquer e dizer para sua avó que está prestes a se casar com ela.
Aí começa a tentativa do protagonista em enganar sua avó, que vem até Mumbai conhecer a pretendida, ao mesmo tempo que se relaciona com Miloni (Sanya Malhotra).
O filme, escrito pelo próprio Batra, lembra muito The Lunchbox no sentido de ser, novamente, um homem desiludido com o amor que acaba por encontrar um mulher solar no meio do caminho que o transforma. Algumas pessoas podem ficar incomodadas com essa semelhança, podendo sentir que o diretor e roteirista não saiu de sua zona de conforto -- trocando, apenas, a marmita por uma sessão de fotos.
No entanto, por mais que o filme da troca de marmitas continue sendo uma obra-prima, parece que Retrato do Amor vai mais além em algumas questões. Aqui, a influência da cidade na relação dos dois protagonistas não é tão claro. Mas há mais sensibilidade nas relações humanas, no toque, no medo de se comunicar -- algo que, em The Lunchbox, é mais destacado apenas nas cenas finais. O protagonista vive aquele curioso e engraçado momento em que parentes saem perguntando "casou? não vai casar? cadê a aliança?".
Assim, por mais que este novo filme seja bem parecido com a grande obra de Batra, eles se complementam e, em certa medida, começam a formar uma espécie de duologia. As relações humanas aqui estão bem destacadas, tudo flui bem na produção.
O problema em Retrato do Amor está no elenco. Nawazuddin Siddiqui (que faz uma participação em The Lunchbox) é um bom ator, mas não chega aos pés de Irrfan Khan. Ainda assim, vale destacar que ele sabe lidar com momentos mais dramáticos e silêncios -- algo que Batra valoriza em seus filmes. Quem não sabe transitar muito bem entre essas duas estações é Sanya Malhotra (Dangal). Por mais que seja muito da sua personagem, parece que falta vitalidade em algumas cenas. Fica abaixo de Siddiqui.
Quem acaba roubando a cena é a hilária Farrukh Jaffar (Secret Superstar), que interpreta a avó do protagonista. Ela possui um humor muito peculiar e que ajuda a complementar a narrativa. Difícil não dar umas três ou quatro boas gargalhadas.
Por fim, Retrato do Amor é um filme pouco abaixo de The Lunchbox. Afinal, ele chega aparentando ser algo requentado do outro longa-metragem e as atuações não são tão impactantes. Mas, ainda assim, é um belíssimo filme que enriquece muito quando é pensando numa coisa só com a outra obra-prima de Batra. Emociona, fala de sentimentos, usa a Índia dentro da história. Quem gosta do diretor tem que assistir.


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