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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Rheingold' é biografia irregular de Fatih Akin sobre rapper Xatar


Quando li mais sobre Rheingold, longa-metragem que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 10 de agosto, fiquei imediatamente empolgado. É um longa-metragem que une duas figuras absolutamente controversas: de um lado, o rapper Xatar, envolvido com gangues e o submundo do crime alemão; do outro o cineasta Fatih Akin (O Bar Luva Dourada), conhecido por seu cinema cru, realista, cruel. O resultado, unindo esses dois mundos, não tinha como dar errado.


E, realmente, não dá para dizer que o filme deu errado ou qualquer coisa do tipo. É uma biografia correta, bem dirigida, e que segue o bê-á-bá do gênero com um punhado de histórias de superação de Xatar (Ilyes Moutaoukkil) em uma vida bastante dura que começa com o sofrimento de sua família curda, passa pela adaptação em outros países como refugiado e até chegar em uma carreira bastante irregular, dividindo a vida como empresário e como criminoso.


Nesses termos, Moutaoukkil está bem como o protagonista atormentado por uma história repleta de altos e baixos, mas que enfrenta tudo de frente, aceitando as pancadas da vida.

No entanto, passado isso, pouco resta em Rheingold -- nome de um ouro que, na mitologia alemã, empresta vida plena, poderosa e infinita ao seu detentor. Akin parece tímido no trato da história, baseada inteiramente em um livro escrito pelo próprio Giwar Hajabi (o nome real de Xatar) a partir de suas memórias. Tudo é muito plano, regular e linear, sem qualquer tipo de inventividade por parte do cineasta e roteirista em tentar deixar a história mais saborosa.


Até mesmo o visual não tem ousadia: tudo é retratado com uma lente amarelada (fazendo uma eterna referência ao ouro) e a câmera está sempre estática, retratando a cena sem interesse.


Não chega a ser um desastre como a recente biografia de Whitney Houston, por exemplo, que só vai cumprindo temas ao longo de sua duração, como se fosse uma Wikipédia audiovisual. Só que, mesmo assim, quase não há Akin no que estamos assistindo e, pior, não conseguimos ver nenhum tipo de avanço em cima da história do rapper/empresário/criminoso. Há pequenas (e quase desnecessárias) pontuações, como o significado de Rheingold e Xatar, e só. Parece que Akin tem medo de se colocar na trama e, pior, de colocar seu pensamento crítico na história.


E pior é que há espaço de sobra para isso. Ao invés de um retrato frio e apático, era mais do que possível encontrar na figura de Xatar alguém para avaliar os rumos da sociedade alemã, da presença de refugiados e, ainda, os caminhos que essas pessoas tomam em países que não as abraçam. Tudo desperdiçado. A única tentativa de ir além chega na última cena, no último minuto de filme, mas já não adianta: ela soa como algo deslocado, não como algo inventivo.


Parece que Fatih Akin, um cineasta que gosta de rir dos limites que o cinema impõe, teve medo ou receio -- e isso nunca é bom. Cinema é pulsão, criatividade, ousadia, coragem. Quem vive na mediana, com medo de ir além, vai ficar sempre para trás.

 

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