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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'The Banker', da Apple, é filme que se perde na própria história


Depois do emocionante longa-metragem Hala, chegou a vez da Apple lançar seu primeiro filme com "pegada" para premiação: é The Banker, produção que conta a história de dois homens negros que buscaram democratizar o acesso da população americana à serviços financeiros, em pleno apartheid. Tudo isso com a direção elegante de George Nolfi (Os Agentes do Destino).


Encabeçando a trama está Bernard Garrett (Anthony Mackie), um homem de visão que decide vender sua empresa para viver como investidor de imóveis. No entanto, conforme o negócio cresce, ele decide ir para outras áreas. É quando ele firma parceria com Joe Morris (Samuel L. Jackson), milionário da região que topa investir num banco e abrir espaço pra negros do País.


Neste momento, com os Estados Unidos ainda afetado por um forte apartheid, eles ainda contratam um laranja, Matt Steiner (Nicholas Hoult), para ser a "cara branca" dos investidores.


A primeira hora de The Banker é animadora. Nolfi se vale de uma trama ágil, e edição esperta, para fazer com que a jornada de Garrett no ramo imobiliário se torne muito interessante. Dá vontade de assistí-lo desafiando o status quo e obtendo sucesso, mesmo com o diretor se valendo de uma série de clichês clássicos de histórias de superação racial e coisas do tipo.


No entanto, essa era a verdade do personagem. E não tem como escapar disso na trama.

Além disso, vale ressaltar que Mackie (Vingadores: Ultimato) está bem nessa primeira metade. Consegue demonstrar os dilemas de seu personagem com breves gestos e olhares, sem permitir que a determinação fuja do seu olhar. Uma atuação muito diferente do que vimos ao longo de sua jornada em filmes da Marvel, sempre durão e com pouco espaço pra emoção.


O grande problema de The Banker, assim, está na sua segunda metade, quando a trama dá uma virada e o foco passa a ser o sistema financeiro dos EUA. Primeiro, o roteiro escrito por quatro pessoas se afunda em termos técnicos e fica naquele dilema clássico: devo explicar o que são essas coisas que estamos falando ou apenas manter os nossos espectadores no escuro total?


A escolha pela segunda opção até tem seu lado positivo, com uma redução de blá-blá-blá técnico, mas acaba diminuindo a força de alguns acontecimentos. Faltou um meio-termo aqui.


Mas a queda de The Banker vem, de fato, quando o roteiro conscientemente deixa os personagens de Mackie e L. Jackson de lado para valorizar a jornada de... Nicholas Hoult. É inconcebível algo assim. Um longa-metragem que valoriza a causa negra e que mostra como dois negros foram importantes na luta pelo fim da segregação foca num homem branco.


É uma escolha narrativa estranha, desconfortável. E pior: fica um clima estranho no ar quando a mensagem da trama chega, em sua conclusão, ao ápice. As coisas parecem desencaixadas, estranhas. É um filme com uma boa história, uma boa trama, bons personagens. Mas que não sabe valorizar o que tem em mãos, se perdendo em suas próprias ambições e possibilidades.


OBS.: Vale ressaltar, aqui, uma história de bastidores: apesar do filme ter nascido com o tino de premiações, a corrida não deu em nada. O filho de Bernard Garrett, Bernard Garrett Jr., foi acusado de abuso sexual por suas duas irmãs. Produtor de The Banker, o possível criminoso acabou enterrando quaisquer chances do longa-metragem em prêmios e em boa bilheteria.

 
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