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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Transe' é bom retrato de momento, apesar de tropeços



Antes de começar a sessão de Transe, filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 2, ouvi um bocado de comentários falando mal do filme -- que era ultrapassado, que era "política de apartamento", que não acrescentava em nada. Fiquei com aqueles comentários martelando.


O fato é que minha mente viajou enquanto o filme de Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães passava na tela. Aqueles comentários negativos começaram a viajar para um lugar bem, bem distante -- não conseguia encontrar, no filme, nada daquele cenário tão desconcertante de antes.


A trama se passa em 2018, com Jair Bolsonaro chegando ao poder. Acompanhamos um trio (Johnny Massaro, Luisa Arraes, Ravel Andrade) com um relacionamento complicado de entender -- Luisa tem um relacionamento com Ravel, mas um rolo com Johnny e por aí vai.


O fato é que, apesar dos encontros e desencontros, nada vai bem quando saem de casa. Como suportar esse possível governo? Jabor (Boa Sorte) e Guimarães (Desnude) não tentam criar, aqui, um filme factual, ainda que tenha algumas tintas de documentário aqui e acolá.



O que elas criam é um bom filme situacional, em que o ambiente contamina a história. Não vi o filme como muitos, que entenderam Transe como um filme com "pena" dos personagens. Entendo o longa-metragem, na verdade, como uma análise de como aqueles tempos afetaram a mente dos personagens e, principalmente, como falharam as diversas tentativas de mudança.


Os personagens fazem política corpo a corpo na saída do metrô, mas pouca coisa realmente funciona. Debatem política na sala de estar, assistem ao debate com amigos, se irritam com o que pensa diferente. As cineastas não endossam essas ações, mas as analisam a partir da perspectiva de quem já sabe o resultado. O que poderíamos ter feito para acabar de outro jeito?


O tal "transe" do título acaba falando sobre duas coisas: o transe que o Brasil viveu nesse período, com pessoas votando ativamente em Bolsonaro; mas também o transe da oposição, que simplesmente se viu nocauteada, na lona, e não conseguiu reagir -- o máximo foi o Ele Não.


É, assim, um filme que não busca exatamente respostas ou entregar uma história quadrada e mastigada. É um retrato de um momento e de uma situação, muito especifica no espaço-tempo, que não apenas traz sentimentos fortes de volta à memória, como também busca compreender os caminhos que não foram trilhados da maneira mais correta. Tudo isso extremamente válido.


Tudo bem que algumas coisas realmente não funcionam em alguns momentos, como a cena em que Massaro se coloca à frente do projetor, ou toda a discussão sobre relacionamento entre os personagens -- acredito que não precisava, de forma alguma, ser um trisal. Mas tudo bem: o filme ainda funciona como essa observação de um cotidiano que, felizmente, já ficou para trás.

 

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