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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Uma História de Família' é filme tão íntimo que se apequena


Como é bom ver Werner Herzog criar, dirigir, roteirizar. O nome por trás de Vício Frenético e Aguirre, a Cólera dos Deuses volta em grande estilo para a ficção — depois de vários documentários sobre natureza — com uma história absurda. Em Uma História em Família, acompanhamos um grupo de pessoas que contratam familiares falsos para enganar terceiros.


É um homem que finge ser pai de uma menina que nunca conheceu o progenitor, é outro que faz de conta que é o pai da noiva — já que o pai real está em casa, alcoolizado, sem condições.


Essas pessoas, especialistas em enganar os outros e fazer de conta que são familiares sumidos ou que não podem aparecer publicamente, são o fio narrativo da trama. Mas, de maneira alguma, são o fim de Uma História em Família. Afinal, o longa-metragem de Herzog fala sobre as falsas relações humanas que foram criadas nos últimos anos. Tudo é fútil demais, frágil.

A personagem, por exemplo, quase faz piada com o fato de que seu pai é alcoólatra e não pode ir ao casamento. A relação de pai e filha ganha contornos emocionais, enquanto a mãe — que contratou o serviço — parece não ligar para a farsa. É quase como se Herzog criasse uma boa distopia em que as máscaras e fantasias das redes sociais ganhassem as ruas de vez.


É um mundo de faz-de-conta, em que ninguém parece se importar com a artificialidade das relações. É uma crítica potente de Herzog, que comanda quase que a totalidade do filme com uma câmera na mão, não deixa de aproximar o vídeo do rosto dos atores, quase como se fosse um vídeo para redes sociais. Há uma proximidade quase exagerada e teatral dessas figuras.


Uma pena, porém, que Uma História de Família se apequene demais. Primeiramente, do lado técnico: percebe-se que não há grande apuro visual e há momentos de falha clara e óbvia. Estoura a luz, a qualidade do vídeo que escapa. Além disso, narrativamente, o filme não dá o grande passo que promete. Fica apenas na intimidade dos personagens, no detalhe, no pequeno.


Poderia ser maior. Afinal, Herzog é gigante. Mas, ainda assim, Uma História de Família é um bom exercício narrativo do cineasta. Traz um olhar crítico e ácido sobre essa sociedade de aparências, de fantasia, de fachada. Parece que é Herzog, na tela, simplesmente mostrando como se cansou de tudo e de todos. No final, a mensagem funciona. E o filme desce quadrado.

 

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