Alain (Guillaume Canet) é um editor que se vê num momento complicado da carreira. Afinal, as coisas estão mudando e o papel começa a dar lugar ao digital -- movimento este, aliás, que é reforçado por sua companheira de trabalho, Laure (Christa Theret). Ao mesmo tempo, e talvez pelo mesmo sentimento de passagem do tempo, o escritor Léonard (Vincent Macaigne) começa a ter dificuldades em encontrar uma editora que publique seus livros. Alain, seu amigo e editor de longa data, já o recusou.
A partir daí, o longa-metragem Vidas Duplas começa a tecer uma série de encontros e desencontros de seus personagens neste furacão de mudanças que acontece no mercado editorial e, consequentemente, em suas vidas. Além disso, também mostra o "outro lado" de suas esposas, Selena (Juliette Binoche) e Valérie (Nora Hamzawi), que também sofrem com suas profissões e os percalços que enfrentam pelo caminho. São vários caminhos cruzados, várias histórias paralelas, ao estilo entrelaçado de Closer.
No entanto, Vidas Duplas não consegue ser tão sagaz quanto o filme de Mike Nichols. Ainda que Closer tenha muitos problemas, não se pode dizer que o roteiro não é inteligente e bem amarrado. O longa francês, enquanto isso, se perde justamente na narrativa. Mesmo se concentrando em quatro personagens -- cinco, se considerarmos Laure, a amante e editora --, a trama de Olivier Assayas (Acima das Nuvens) é fraco, vago, lento demais. Muita coisa acontece, pouco reflete na tela. O filme leva uma vida.
Afinal, ao invés de se concentrar em um único fio narrativo, Assayas decidiu expandir a história que começou a contar. O ponto principal, inicialmente, parece ser a crise no mercado e como isso afeta algumas pessoas -- Alain e Léonard, principalmente. Mas as coisas divagam. Ao contrário de Closer, a produção francesa parece um carro conduzido por alguém bêbado. Anda em zigue-zague, demora muito para chegar no ponto central. E, quando chega, o impacto não é o mesmo. Pelo contrário: já foi afetado pelo cansaço.
O que se sobressai ali, de fato, são as relações humanas, interessantes quando colocadas sob perspectiva derrotista. No entanto, demora para Assayas perceber que este é o seu diamante. Ele insiste em tornar a narrativa protagonista, a qualquer custo, expondo mais suas fraquezas e deficiências. Não é à toa que o final melhora muito.
E assim, a mensagem que era boa, se torna borrada, esquecível. Há boas piadas e bons momentos que ficam pelo caminho e que despertam um riso aqui e acolá. Mas só isso? O elenco, estrelar, é desperdiçado. Binoche (O Paciente Inglês) de novo não acerta. Faz um papel bem mequetrefe e sua personagem parece uma reprise da crítica que Assayas já teceu em Acima das Nuvens. Canet (A Praia) está bem, mas o personagem é apagado demais para ser lembrado. O mesmo vale pra Hamzawi (Pension complète). Só Macaigne (Agnus Dei) fica marcado. Ainda que seu personagem seja um lugar-comum.
Dessa forma, o que sobra de Vidas Duplas são boas intenções, um elenco esforçado e uma mensagem interessante, mas que é passada de forma torta. Não é, de longe, a melhor performance de Assayas, que deixa claro que não sabe fazer comédias tão bem quanto faz dramas -- ainda que a piada de A Fita Branca seja ótima. Melhor voltar pros dramas mais existenciais, transbordando de crítica a cada instante. Pois essa comédia, insossa do jeito que saiu, não dá. É feita pra dormir. E esquecer daqui algum tempo.
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