A Netflix faz tanto, mas tanto filme ruim que, quando surge uma coisa boa fora da temporada de premiações, ficamos de boca aberta. É o caso do estiloso Vingança & Castigo, longa-metragem de faroeste que chega ao catálogo do serviço nesta quarta-feira, 3. Dirigido por Jeymes Samuel, que também assina o roteiro ao lado de Boaz Yakin, é uma das boas surpresas deste ano.
Na trama, acompanhamos dois fios narrativos. De um lado, Nat Love (Jonathan Majors) é um conhecido pistoleiro do Oeste dos Estados Unidos que faz jus ao título em português do filme: está em busca de vingança. De sangue. O motivo? O assassinato de seus pais quando era bem pequeno. Do outro lado, surge o grupo de criminosos, inclusive com o assassino (Idris Elba).
A partir daí, Vingança & Castigo se desenvolve como um faroeste tradicional, como já vimos aos montes por aí. Nat Love acaba arregimentando aliados (Zazie Beetz, Edi Gathegi, Danielle Deadwyler, Delroy Lindo) para ajudar nessa vingança. Rufus Buck, o vilão interpretado por Elba, faz o mesmo. Chama aliados, interpretados por nomes como Regina King e LaKeith Stanfield.
Oras, o que tem de tão especial como acusa o título deste texto, então? É a forma que Jeymes Samuel, que já tinha mostrado habilidade em They Die by Dawn, conduz essa trama toda. Primeiramente, o filme é uma declaração, um comentário -- logo no início, o diretor avisa que aqueles acontecimentos são fictícios, mas que aqueles personagens existiram naquela época.
Vingança & Castigo, dessa forma, acaba sendo um forte sinal audiovisual contra o apagamento das pessoas negras nas histórias de faroeste. E para não ser apenas um comentário, Samuel realmente investe no visual e na estética. Cria sequências coloridas e empolgantes, além de ir no caminho de Quentin Tarantino em Django Livre, por exemplo, ao trazer uma violência árida.
Há um probleminha bem óbvio de roteiro, que é a forma como ele se estende. Há, no meio, uma clara barrigada: a história não anda e o tempo corre. Além disso, a forma como desenvolvem o personagem de Idris Elba é bem preguiçosa. Ele é chamado o tempo todo de lenda e de terror do Velho Oeste, mas não vemos nada disso. É o típico personagem que se sustenta por ideias.
Felizmente, porém, algumas boas atuações ajudam a levantar o filme como um todo. Majors volta a trazer uma atuação um tanto quanto exagerada, como vimos em Loki, mas que ganha força no final. Elba também está bem, ajudando a criar essa aura de vilão. Só que os grandes destaques são Delroy Lindo e Regina King. A presença de ambos em cena é surreal.
Vingança & Castigo, assim, é uma surpresa inesperada da Netflix. Ainda que tenha essas derrapadas no roteiro, consegue se fortalecer com uma história marcante, bons atores e um visual que deixa qualquer de olhos fixos na tela. Fica a torcida para que Samuel ganhe cada vez mais espaço -- seja na Netflix, seja em outros estúdios. Há visão, há talento. Merece atenção.
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