Crítica: 'Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out', da Netflix, diverte com a mesmice
- Matheus Mans
- há 7 minutos
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Geralmente, quando vou às sessões de filmes para imprensa, tenho um hábito de sair o quanto antes da sala de cinema assim que os créditos começam a rolar na tela. É mais do que hábito, aliás. É vontade. Assim que assisto ao filme, quero ficar com aquela história pra mim. Esses dias, ouvi o crítico da The New Yorker falando a mesma coisa no maravilhoso documentário The New Yorker: 100 Anos De História e é algo que, antes disso, já tinha ouvido do mestre Rubens Ewald Filho. Só lembro de uma vez ter quebrado essa regra: quando os créditos de Entre Facas e Segredos subiram na tela.
Estava embasbacado. Fui pronto para assistir um "whodunnit" banal e encontrei um filme muito esperto sobre tensão social, além de ser muito divertido -- como falei aqui no Esquina na época. Infelizmente, o efeito de choque não se repetiu com Glass Onion, a sequência bobinha e banal. Assim como também não aconteceu com Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out, longa-metragem que chegou nesta sexta-feira, 12, na Netflix.

A esperteza do diretor e roteirista Rian Johnson está toda ali. Um padre ex-boxeador (Josh O'Connor) é enviado, como castigo após reviver seus tempos de ringue, para uma paróquia que todo mundo quer manter distância. O motivo? O monsenhor do local (Josh Brolin) é um babaca perigoso, pra dizer o mínimo, que manipula os poucos fiéis que ali restaram (vividos por Jeremy Renner, Andrew Scott, Cailee Spaeny e por aí vai).
Obviamente, um crime acontece na tal paróquia e Hercule Poir... opa, Benoit Blanc (Daniel Craig) chega ao local para tentar entender o que aconteceu. É, assim, mais uma sequência de Entre Facas e Segredos que não consegue o feito do original em colocar camadas em cima do mistério. É um "whodunnit" e ponto final, sem muito mais a dizer.
Tudo bem que aqui, ao contrário de Glass Onion, há alguns elementos em que Rian Johnson se diverte e, com isso, o público se diverte também, principalmente no que tange às discussões sobre religião. Fé, símbolos religiosos e, principalmente, sobre a forma de lidar com as figuras religiosas — a cruz ausente na paróquia, o padre maluco e o outro ex-boxeador, a igreja até como espaço de conflito social. Tudo isso é provocação, ainda que Johnson parece alguns degraus abaixo de sua possibilidade.
O que acaba se tornando um grande destaque assim, já que a história não empolga tanto, é o elenco. Josh O'Connor é, mais uma vez, um acontecimento. Assim como mostrou em Rivais e em The Mastermind, ele tem uma graça própria que ele sabe jogar para dentro de seu personagem, indo desde a confusão social e sexual (no longa de Guadagnino) até chegar nesse padre que simplesmente não sabe lidar bem com conflitos ao seu redor, mesmo tendo um passado de boxeador. É a alma do filme.
O elenco de apoio é menos interessante do que nos anteriores -- afinal, já tivemos Ana de Armas, Jamie Lee Curtis, Michael Shannon, Toni Collette, Christopher Plummer, Edward Norton, Kate Hudson e por aí vai, enquanto agora um dos principais destaques é o fraquíssimo Jeremy Renner. No entanto, algumas peças nesse tabuleiro funcionam bem, como é o caso de Glenn Close, a fervorosa religiosa que trabalha como secretária do monsenhor, e o próprio Josh Brolin, alucinante como o religioso totalmente maluco.
No final, fica a sensação de filme divertido, mas nada muito além e que mostra certos sinais de cansaço. Daniel Craig, por exemplo, já não tem muita novidade ao fazer seu detetive afetado e Rian Johnson não encontra tanto espaço para brilhar. A vontade que dá, ao final, é ver mais do cineasta de Os Últimos Jedi, mas não necessariamente de Entre Facas e Segredos. Talvez valha um respiro aqui, com o diretor e roteirista buscando outros projetos e histórias para contar. Talento há, claro. Só que para Knives Out sobra a sensação de que as boas ideias foram e sobrou apenas a diversão razoável.






