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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: Zeca Pagodinho surge espontâneo em 'Mais Feliz'

Atualizado: 3 de ago. de 2021


Depois de uma fase meio pra baixo, com pouco destaques em suas interpretações, Zeca Pagodinho parece estar se voltando novamente para a espontaneidade. Em Mais Feliz, o seu 24º álbum, o cantor e compositor parece abrir o coração para falar sobre tudo que quer ou precisa. Ali tem homenagem para Arlindo Cruz (Nuvens Brancas de Paz), crítica ao governo do Rio de Janeiro (Na Cara da Sociedade) e exaltação ao amor (Mais Feliz).

Isso sem falar do Zeca que se volta aos clássicos do passado e que o formaram como sambista, como na boa regravação de O Sol Nascerá, com Teresa Cristina, e a boa Apelo.

Mas o fato é que em Mais Feliz, Zeca traz faces que estavam escondidas há algum tempo. Parece não haver ali nenhum grande hit como Verdade, Deixa a Vida me Levar ou Caviar -- a única que parece chegar mais perto disso é a que dá título ao disco. O que há é uma verdade de Zeca, que parece estar mais triste, contrariado. Ainda que feliz. "Tristeza" aparece em metade das faixas, como na excelente Permanência.

Mas isso não significa, é claro, que seja um disco triste. Por mais que Zeca abra o coração, Mais Feliz -- que apresenta essa dualidade entre título e obra, curiosamente -- tem a irreverência do cantor transpirando a cada canção. Até mesmo na regravação de Apelo, lindamente arranjada por Hamilton de Holanda e Yamandú Costa, há um Zeca brincalhão e faceiro por trás de uma formalidade aparentemente pouco usual em seu repertório. Ali, afinal, até a voz parece estar mais clara, sem tanto sofrimento do tempo.

O grande destaque do álbum, porém, fica com a lindíssima Nuvens Brancas de Paz, escrita em parceria com o amigo Arlindo Cruz, que está incomunicável após um grave derrame. Há uma verdade na canção que ultrapassa a barreira do som e quase se materializa quando Zeca entoa "ameniza minha dor". Curiosamente, aqui, a tristeza é trocada pelo alegria dos bambas e dos quintais de Zeca, chamando mais a atenção.

Duas outras músicas, muito divertidas, também são divertidas. A primeira é a hilária O Carro do Ovo, que traz a essência bairrista que é vista frequentemente nas canções de Zeca. Mas quem rouba a atenção é a deliciosa Quem Casa Quer Casa. Que delícia de ouvir! Por mais que diga muito sobre a realidade imobiliária do Rio de Janeiro, ela diz muito mais. Ainda mais com a interpretação leve de Zeca, que parece estar rindo à beça.

Mais Feliz é um álbum cheio de contradições, afinal. O disco exalta uma alegria que acaba entrando em conflito com a tristeza que surge na maioria das músicas. Há, também, uma alegria escondida em cada verso, por mais que haja uma crítica social ou uma homenagem ao amigo querido. Zeca, aqui, está espontâneo, verdadeiro. Trouxe a mistura de suas influências, pôs a cara a tapa e fez o que queria fazer -- inéditas, regravações, composições próprias. Há de tudo um pouco neste caldeirão musical.

E o que é Zeca Pagodinho senão uma mistura completa e divertida de boas influências?

 

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