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  • Foto do escritorMatheus Mans

'É um diagnóstico do Brasil', diz diretor de 'Excelentíssimos'


O cineasta Douglas Duarte estava planejando fazer um documentário sobre radicais políticos quando percebeu que tinha possibilidade para mais. A ideia, então, evoluiu para um perfil do Congresso Nacional. Só que o local, coincidentemente, estava passando por uma tormenta por conta do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). Foi aí que surgiu o fio da meada para todo o restante da produção, que viria a se chamar Excelentíssimos. "O que a gente conseguiu flagrar foi um momento único com situações perenes da políticas que vemos desde 1988", disse o diretor ao Esquina.

O resultado é um filme-documento, que mostra as bases do impeachment na eleição de 2014 até os momentos mais recentes, como a posse de Michel Temer e o crescimento de uma direita radical -- curiosamente, a ideia inicial de Douglas. Por mais que soe repetitivo para os dias atuais, já que o longa é quase um revival de coisas que o Brasil acabou de viver, é inegável seu valor histórico. Sem dúvidas, o filme será essencial para que futuras gerações entendam o imbróglio que se deu no País hoje em dia. "A ideia de ser um material para o futuro veio na montagem", diz ele. "Tem o seu valor fílmico."

Abaixo, confira a entrevista por telefone completa e exclusiva do Esquina com Douglas, diretor do documentário Excelentíssimos, que chega aos cinemas na quinta-feira, 21.

Esquina da Cultura: Como surgiu a ideia de 'Excelentíssimos'?

Douglas Duarte: Começou chamando Radicais, quando eu pensava em falar sobre radicais políticos onde quer que estivessem. A gente pensava em entrevistar pessoas como Olavo de Carvalho. Seja de esquerda ou de direita. Mas tivemos a sensação de que os radicais estavam no legislativo, no entanto. E aí ficou essa ideia de fazer um perfil do nosso Congresso. Não queríamos sair do prédio, como se fosse um teatro. E a gente foi acompanhando a evolução do cenário político dentro do caos político, com o impeachment. E isso, de alguma maneira, só ia exemplificar ainda mais nosso projeto. O que a gente conseguiu flagrar foi um momento único com situações perenes da políticas que vemos desde 1988.

Esquina: Foi difícil conseguir o acesso ao Congresso?

Douglas: Foi difícil quando não sabiam o que a gente ia fazer e foi difícil quando descobriram o que a gente ia fazer. Quando eles não sabiam, falavam pra gente chegar no final de semana com atores, luzes, etc. Achavam que ia ser um House of Cards. Mas depois, quando viram que a gente ia fazer um filme sobre os bastidores, a coisa degringolou. Me vi sentado na frente da assessora do Cunha falando que não podia me autorizar por eu não ser imprensa, por não ter poder de pressão em cima de mim, em cima de algum chefe. Eles viram que a gente tava fazendo alguma coisa de relevo, com visões críticas. Eram visões independentes. E a gente acabou entrando com uma credencial de jornalismo. E fizemos o filme ao redor dessas autorizações. Mas logo eles sentiram que a gente não era imprensa e a imprensa viu que não estávamos fazendo um trabalho parecido com o deles. Fazer documentário é encontrar pequenos espaços.

Esquina: Como foi a relação com os parlamentares durante o período? Você tem registro dos dois lados da situação, pensando de maneira polivalente. Como foi isso?

Douglas: Os dois lados são fechados, especialistas em falar apenas o seu lado da coisa. Não dava pra fazer esse filme apenas com entrevistas. E os dois lados conversam entre si, saem pra jantar e não sei o que mais. Foi difícil encontrar a verdade, a brecha da sinceridade. Os únicos que cometeram sincericídio conosco foram Silvio Costa (Avante) e o Carlos Marun (MDB). Já momentos mais privados, a portas fechadas, demanda negociação, precisa mostrar que é por uma boa razão, que vai ter uma postura ética com o material. E eu não tinha como dizer o que ia fazer com aquilo, já que eu não tinha ideia.

Esquina: Sinto que seu filme tem um valor histórico essencial. É aquele negócio: as pessoas se perguntam como gerações futuras vão entender pelo que a gente está passando e você, com 'Excelentíssimos', vai ajudar muito nisso no futuro. Tinha esse pensamento durante a realização?

Douglas: O filme tenta começou como uma matéria fria, mas acabou virando um diagnóstico de coisas frias, mas também de coisas quentes. É um diagnóstico do Brasil. Isso, de servir pro futuro, veio na montagem. Foi quando a gente decidiu como articular o filme. O que fazer com o material bruto. Eu comecei a ver documentários na escola, como Ilha das Flores. Sempre esteve muito claro que esse era um caminho possível pro filme. Talvez não seja o caminho que as pessoas pensam na forma fílmica, mas a gente precisa ter independência das opiniões alheias. E tem filmes clássicos que se firmaram assim.

Esquina: Como editar o material? O filme tem mais de 2 horas. Imagino a quantidade de coisa que você tinha gravada.

Douglas: Era muita coisa pra dar conta. Foi ali que a gente decidiu dar esse salto pra trás, pra 2014, para mostrar como a coisa realmente começou. A gente começou a encontrar os rastros de quem ia se beneficiar bastante da derrubada da Dilma. Os personagens se repetiam. É o cara que pede auditoria da Eleição e vira vice-presidente da Comissão de Impeachment. Eu poderia fazer um filme sem dar atenção para esses detalhes. Mas eu acho que não tinha como deixar pra trás.

Esquina: E qual sua expectativa agora com o filme? O que espera? E quais os novos projetos?

Eu quero que o filme seja visto, o que é difícil para documentários no Brasil. Tivemos duas sessões diferentes. Uma as pessoas estavam eufóricas, outras deprimidas. A reação muda muito e é bom que isso aconteça. O filme é um começo de conversa comigo, entre as pessoas que assistem. Se isso acontecer, fico feliz. Eu estou tocando uma radiografia um pouco mais ponderada sobre a corrupção através de alguns dos casos de corrupção emblemáticos do País, como a compra da reeleição pelo FHC, o caso do PC Farias, etc. Pra além da gritaria, da corrupção. É uma série de TV. E, além disso, um projeto sobre os militantes de 2013 e a condenação que se abateu sobre eles. São as histórias humanas, além dos nomes de guerra. É gente, que é o que me interessa.

 

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