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  • Foto do escritorMatheus Mans

'É um filme uterino', diz Fernanda Montenegro sobre 'A Vida Invisível'


A coletiva de imprensa do longa-metragem A Vida Invisível estava lotada. Numa ampla sala do Hotel Renaissance, em São Paulo, pessoas se acotovelavam para ver, principalmente, a estrela do filme que faz apenas uma participação especial: Fernanda Montenegro. Aos 90 anos, a atriz participa de cerca de 10 minutos do longa-metragem de Karin Aïnouz e cativou a sala resumindo toda a história: "este é um filme uterino".

Afinal, o longa-metragem conta a história de duas irmãs separadas por uma mentira. Elas acham que estão separadas por um oceano inteiro, enquanto moram no mesmo Rio de Janeiro dos anos 1950. E ambas possuem suas vidas atrapalhadas por homens -- Eurídice Gusmão (Carol Duarte) casa com Antenor (Gregório Duvivier), que sobrepõe os seus sonhos ao da esposa; e Guida (Julia Stockler) sofre com um marido ausente.

Aïnouz (do lindíssimo O Céu de Suely) soube destacar muito bem a importância da história hoje e a escolha dela se passar, justamente, nos anos 1950. "De lá pra cá, as mulheres mudaram muito. Mas os homens não mudaram nada", afirmou o cineasta, se referindo à conquista de direitos e ao machismo que persiste na sociedade. "É um filme do passado que ecoa no presente. Afinal, não é uma história de época. É sobre época".

O cineasta, aliás, disse que se questionou algumas vezes se era a pessoa certa a dar vida à trama de Guida e Eurídice. Afinal, é uma história feminina -- "uterina e vaginal", nas palavras de Fernanda Montenegro. No entanto, ele percebeu que conhecia esse universo. Foi criado por uma família de mulheres, sendo o único homem de seu núcleo familiar. "De certa forma, conheci uma Eurídice. Estou bem familiarizado com isso".

Gênero de 'A Vida Invisível'

O longa-metragem é um drama, mas tem um formato novelesco. Ou folhetinesco. Afinal, as coisas acontecem com uma certa teatralização, por vezes, exagerada -- há o reencontro por um fio, a música, os amores, por aí vai. Karim Aïnouz admite que as novelas, de certa forma, foram uma inspiração para ele adaptar essa história baseada em um excelente livro de Martha Batalha. Livro, aliás, que tem um ar mais cômico.

"Sempre gostei muito de novelas. Assisti Selva de Pedra, por exemplo. Mas nunca quis fazer novela. Queria fazer folhetim para rasgar o coração", disse ele ao ser questionado.

Fernanda Montenegro, sempre muito atenta ao que era dito na coletiva, complementou. "Por qual motivo não podemos ir do épico ao folhetim? Do folhetim ao épico? São coisas igualmente difíceis de serem feitas", disse. Por fim, perguntaram o que fez com que a atriz, contemporânea de Eurídice, não tomasse o mesmo rumo. "A vocação. A Eurídice se suicidou perante a vida. E o que é uma vocação senão uma busca por sua liberdade?".

(*) Filme visto durante cobertura especial da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 
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