top of page
Buscar
  • Foto do escritorMatheus Mans

'É um retrato do Brasil', diz diretora sobre 'Três Verões'


O cenário de Três Verões é uma casa em transformação. Afinal, depois de um primeiro verão feliz e festivo, o pai da família (Otávio Müller) é preso em uma operação policial aos moldes da Lava-Jato. Depois disso, a mãe (Gisele Fróes) e o filho (Daniel Rangel) somem no mundo; o avô (Rogério Fróes), professor aposentado, fica sozinho; e os empregados tentam manter a rotina.


No foco da câmera da diretora Sandra Kogut, assim, entra Madá (Regina Casé). Governanta daquele casarão, ela tenta manter a ordem dentre os funcionários, enquanto cuida do avô que já vive em uma situação de abandono e, por fim, tenta levantar seu negócio -- um quiosque, bancado justamente pelo preso por corrupção, para vender marmita aos outros empregados.


"A casa do filme é um retrato do Brasil neoliberal. Todo mundo quer se patrão", resume a cineasta Sandra Kogut em coletiva de imprensa realizada em São Paulo. "Os personagens são emblemáticos desse tipo de relação social que vivemos. Mas, apesar disso, são humanos".


Ou seja: mais do que ser uma história banal sobre empregados numa casa em transformação, o longa-metragem Três Verões pretende ir além nesse exame atento sobre a nova realidade brasileira. A política nunca é discutida de fato em cena, mas está sempre nas entrelinhas das falas de Madá, nas atitudes e posts da mãe e do filho, e no semblante triste do avô-professor.


"Os protagonistas do filme são os figurantes das histórias que vimos nos noticiários nos últimos anos. A Madá e o Lírio, personagem do Rogério Fróes, são náufragos, presos ali naquela realidade", resume brilhantemente Kogut. O ator Rogério Fróes, por fim, concluiu bem todo o raciocínio: "a grande mensagem do filme é a preocupação com os nossos semelhantes".


Regina Casé


Depois de um atraso de cerca de 20 minutos, a protagonista Regina Casé chegou na coletiva de imprensa. Um tanto quanto esbaforida, ela logo foi questionada sobre a recorrência em papéis de empregadas. A primeira foi no elogiado filme Que Horas Ela Volta?, depois na novela Amor de Mãe, ainda em cartaz na Globo, e, agora, neste novo longa-metragem da diretora Sandra Kogut.


O que faz com que ela repita tanto esse tipo de personagem, tão semelhante e tão recorrente?


"Quantas atrizes só fizeram patroas em suas carreiras? E perguntaram isso pra elas? E vou além: quantas patroas existem no Brasil? E quantas empregadas", questiona a atriz e apresentadora. "Temos muitas histórias que ainda não foram contadas nos cinemas, na televisão. Minha carreira é de reparação histórica. Falo dessas pessoas antes esquecidas".

 
0 comentário
bottom of page