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  • Foto do escritorMatheus Mans

‘Vivo na música e ela vive em mim’, diz João Bosco


João Bosco é um daqueles artistas indiscutíveis. Com seu violão na mão e a boina na cabeça, ele alcança todos os tipos de público com seu ritmo inusitado, original e quase experimental. Não importa se você prefere samba, rock ou jazz: alguma canção de João já te fisgou, entrou na mente e te fez cantarolar por horas. Dias, talvez. E, se isso aconteceu, ela com certeza está ressurgindo em sua mente agora, enquanto lê este texto.

O Esquina conversou com João Bosco, que inaugura a seção de Papos Musicais. Em pauta, a vida. Afinal, João acabou de completar 70 primaveras e, ainda assim, decidiu não ficar “bossanoviando” por aí. Na verdade, continuou a trabalhar: está preparando um disco de inéditas — incluindo uma nova parceria com o poeta Aldir Blanc — e faz vários shows pelo Brasil. Decidiu, para nossa alegria, não parar no tempo.

Abaixo, confira a entrevista completa com João Bosco para o Esquina, feita às vésperas do início da gravação de seu novo disco:

Esquina da Cultura: Você está trabalhando em um show voz e violão e, em breve, deve lançar um discos de inéditas. O que o faz arriscar e inovar aos 70 anos?

João Bosco: Eu devia estar caminhando na praia. Fazendo aquele percurso bossanovista do Leblon ao Arpoador que sempre gostei de fazer. Mas e o calor? E a preguiça? Hoje, só não tenho preguiça para caminhar no meu violão. Eu vivo na música e ela vive em mim. Simples assim. Não me separo do meu violão. Quando estou cantando esse lindo samba do Paulinho da Viola, “Tudo se transformou", há um verso em que ele diz: "violão/ até um dia/ quando houver mais alegria eu procuro por você". Até pra dizer esse verso eu preciso do meu violão e, certamente, o Paulinho também. Estarei procurando por ele em todos os momentos. Pra que mentir?

O jornalista Mauro Ferreira disse, há pouco tempo, que você é um "alquimista" da música. Concorda?

Eu sou matriculado na escola de Mestre Caymmi. Às vezes, o todo (a palavra, a música, suas harmonias e melodias, o ritmo, o silêncio, a voz) é maior que a soma dessas partes. Mas quem sou eu pra falar de mim?

Você gosta da música que está sendo ouvida e produzida no Brasil atualmente?

Quem sou eu pra apontar alguma coisa? Eu penso que a música tem seu dinamismo natural. Ela vai fazendo o seu caminho naturalmente, como a água faz o seu. É claro que eu tenho as minhas necessidades musicais da mesma forma que a planta precisa da água para florescer. Depois que você faz 70 anos, a prioridade é a alma do meu violão. Ela me fala sobre o tempo, o espaço e as necessidades em geral. A intuição mora na casca do meu violão. Vou me encontrando com o que é feito de música pelo caminho e deixando que ela me escolha ou não. Para mim, isso é ouvir música.

Você sempre esteve muito presente em trilha de novelas. Este passo foi importante para sua carreira? As novelas te ajudaram?

As novelas ajudam todos que lá estão. Realmente, estive muito presente nas trilhas de novelas. A música está embutida no personagem, no cenário, no figurino. Isso ajuda muito a penetração da música naqueles que estão acompanhando a novela. Há uma mistura de som e visual que é muito interessante. Muitas das músicas que fizemos encontraram, enquanto trilha de novela, o sucesso.

Sempre fui fascinado pela música "Bijuterias". No entanto, ela é uma daquelas letras misteriosas, com letras que são decifradas de maneira particular por cada um. Você tem um significado claro e pessoal para a letra?

Eu acho que “Bijuterias” (que pertencia à trilha da novela O Astro, da TV Globo) é, como você mesmo diz, para fascinar. É feita de delicadeza e enfeites que brilham. Material sem valor desses que vivem na alma da gente mas que não tem valor de mercado. De minha parte, eu consigo decifrar com facilidade as manias. Mas para maiores explicações sugiro que convoquemos Herculano Quintanilha, suas cartas, sua bola de cristal e sua competência para decifrar. Ou, então, convoquemos o próprio Aldir Blanc, letrista da música, testemunha ocular dessa vitrine.

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