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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: Faroeste moderno, 'A Qualquer Custo' tem história excepcional e vilão real

Atualizado: 11 de jan. de 2022


O mundo mudou. Não temos mais mocinhos e vilões bem delineados e definidos. Esta divisão ficou mais borrada e não sabemos mais quem está do nosso lado e quem está contra nós. É o jogo da vida, que vai mudando e se transformando na frente de nossos olhos. E isso começa a ser refletido nos cinemas: após dirigir os ótimos Encarcerado e Sentidos do Amor, o escocês David Mackenzie chega ao seu oitavo longa metragem com A Qualquer Custo. Nele, acompanhamos dois irmãos (Ben Foster e Chris Pine) tentando salvar a fazenda da família, vítima de uma dívida.

Para não deixar que a fazendo se torne propriedade de instituições financeiras, os dois atacam, justamente, quem os cobra pela dívida: os bancos. E , no meio do caminho, ainda tem o delegado Marcus Hamilton (o ótimo e incansável Jeff Bridges), que tenta solucionar os roubos cada vez mais frequentes. É, essencialmente, uma trama de gato e rato, mas com fortes doses de drama e de reflexão. Um faroeste moderno.

Mais moderno ainda, como dito no começo do texto, é a divisão borrada entre mocinhos e vilões: mesmo sendo assaltantes de bancos, os irmãos Howard não podem ser chamados de vilões. A causa é justa e o motivo é quase fraternal. Além disso, eles não roubam de pessoas comuns: roubam, unicamente, daquela instituição que os roubou a vida inteira. Enquanto isso, Marcus Hamilton é um policial que já vislumbra a aposentadoria e que quer resolver rapidamente os crimes. Ele está apenas fazendo o seu trabalho de um jeito que acha coerente e honesto. Nada de heroico.

Todo esse clima de faroeste moderno é acentuado pela direção certeira de David Mackenzie. Com ótima criação de ambiente e trama, ele conduz o espectador para dentro da história. No final, é impossível não torcer para a dupla. Ou seja: num inteligente jogo de direção e roteiro, acabamos torcendo pelo roubo de bancos. Algo inimaginável em faroestes clássicos.

Além disso, as atuações estão precisas. Chris Pine, que começou a brilhar com Horas Decisivas, mostrou que pode ser um ótimo ator quando quer. Ben Foster, que se aproxima cada vez mais de se tornar um astro, rouba a cena quando aparece e emociona na medida certa. Jeff Bridges, enquanto isso, entrega a sua melhor atuação desde Bravura Indômita, de 2010. É uma atuação cheia de paixão e que brilha nos momentos certos. Merece o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 2017.

A Qualquer Custo é um filme necessário, que revitaliza o tema e que retrata a mudança de paradigma de vilões e mocinhos. Não duvido que, daqui alguns anos, se torne um clássico cult e que marque a nossa época, cheia de dúvidas, conflitos e questionamentos sobre quem é, exatamente, o nosso vilão.

ÓTIMO

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