top of page
Buscar
  • Amilton Pinheiro *

Festival de Itabaiana 2018: Jazz, blues e Sivuca para o povo


Uma daquelas coincidências que ninguém ousa explicar. O aniversário da cidade de Itabaiana, na Paraíba, acontece no mesmo dia em que nasceu o seu filho mais ilustre, Severino Dias de Oliveira, o Sivuca, em 26 de maio. Sivuca ficou conhecido pelo grande público por compor dois grandes sucessos da Música Popular Brasileira (MPB): Feira de Mangaio, junto de Glorinha Gadelha, eternizada na voz da cantora Clara Nunes, e João e Maria, que ele fez com o parceiro Chico Buarque.

Aproveitando a data do aniversário da cidade de Itabaiana e do seu filho mais expoente, Sivuca, a ONG Taberna Cultural resolveu apresentar à prefeitura da cidade o projeto de fazer um festival anualmente que reunisse a figura do multi-instrumentista, maestro, arranjador, cantor e compositor Sivuca, com apresentações de grupos de jazz e blues da região e de outros lugares. Mas por que jazz e blues?: “Nas décadas entre 1920 e 1950, a cidade de Itabaiana viveu uma grande movimentação cultural, inclusive possuía uma banda de jazz composta por artistas e operários do município”, revela Edglês Gonçalves, assistente administrativo da ONG.

Foi estudando a história cultural da cidade e de Sivuca, que Gonçalves percebeu a forte relação que Itabaiana tinha com o jazz e blues, e que certamente deve ter influenciado o jovem Sivuca, que nasceu em 1930. “Nossa primeira ação quando formatamos o festival foi estudar a obra de Sivuca e a história do município. Começamos em seguida a fazer workshops na Taberna Cultural, local onde realizamos as atividades da ONG, para passar essa identidade cultural para nossos músicos, saber da própria história e gerar o pertencimento faz com que o artista se empodere da sua essência cultural”, explica Gonçalves.

Com o apoio da prefeitura e de outros parceiros, como o Sebrae, a Funesc e PB-Tur, entre outros, a Taberna Cultural irá realizar o 1º Festival de Jazz de Jazz & Blues Sivuca que acontecerá a partir desta sexta (25) e sábado (26), no aniversário da cidade, com apresentações de grupos de jazz e blues na Praça Epitácio Pessoa, no Centro da cidade a partir das 18h00.

Nesta sexta, serão seis apresentações, começando com o Quinteto Uirapuru, que já teve a honra de dividir o palco com Sivuca, depois Cezzinha, In The Mood hard Blues, Orquestra de Itabaiana, Henrique Ornellas e Helinho Medeiros e Quarteto. No sábado, se apresentaram os grupos Sarau das Almas, Coral Vozes da Feira, Nathalia Bellar e Trio Dibuiá, Adeildo Vieira, Forró de Chá Preto e Brazilian Blues Band.

Edglês Gonçalves revelou para o Esquina que não foi nada fácil convencer os apoiadores públicos e a iniciativa privada de um evento com esse formato. “Tivemos dois grandes obstáculos, primeiramente tirar o município de um 'ostracismo' cultural que ele estava vivenciando e mostrar a importância que nosso filho ilustre [Sivuca] teve na música nacional e internacional e em segundo a questão financeira, num país onde a cultura de massa prevalece é muito difícil convencer as iniciativas pública e privada de que é válido investir num evento desse porte e com essa proposta musical”.

No ano passado, a prefeitura de Itabaiana contratou como atração principal da festa do aniversário da cidade, um artista de nome Gil Bala, que canta pérolas em ritmo de funk como Oh Nananam, onde abundam, desculpe o trocadilho, senta, rebola, bunda, gostosa, vou te pegar, e por aí vai.

Uma atração que canta letras vulgares e apelativas e se apresenta com um mise-em-scène bestial não pode ser considerada um bem cultural que uma prefeitura de uma cidade promova para sua população no dia de seu aniversário, ainda mais onde o público que assiste é formado por crianças e adolescentes.

“Queremos com esse festival mostrar para as pessoas que é possível fazer um evento que agrega valores e traga humanização através da música de qualidade. Expor para os nossos jovens e adolescentes que a cultura pode ser um diferencial de vida como foi para Sivuca”, espera Gonçalves.

Sivuca, que morou, entre 1964 e 1976, em Nova Iorque, teve uma carreira internacional de sucesso tocando com seu inseparável acordeom nas melhores salas de concerto e de música, e trabalhando com artistas como Miriam Makeba, Harry Belafonte, Baden Powell, Humberto Teixeira, Chico Buarque, Clara Nunes, entre tantos outros. E Mostrando que é possível que um artista que nasceu em uma pequena cidade do interior da Paraíba, Itabaiana, possa chegar em qualquer parte do mundo.

* O jornalista viajou à Itabaiana, na Paraíba, a convite da PB-TUR e da Organização do Festival.

 

bottom of page