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  • Tadeu Elias

Festival de Vitória: Neville d'Almeida é homenageado na terceira noite


“O cinema é liberdade”. É com essas palavras que Neville D’Almeida, um dos grandes diretores do cinema brasileiro, recebe o Troféu Vitória na terceira noite do Festival. Para celebrar os 50 anos de cinema, Mario Abbade monta o documentário Neville de Almeida: Cronista da Beleza e do Caos. Imagens raras e entrevistas com atores consagrados narram a trajetória desse sujeito tão polêmico no cinema brasileiro.

Neville D’Almeida é o diretor mais censurado de todos. Ele mesmo faz questão de deixar isso claro. Houve muitas brigas no meio audiovisual nos anos 1970, isso porque a censura marcava em cima. Muitos filmes não chegavam nem a ser exibidos. Os que conseguiam estavam cheios de cortes. Neville enfrentou isso durante toda sua carreira, já que levava pornochanchada a níveis que a dita “família brasileira” não poderia suportar. Recebeu o título de “Maldito”, e seus filmes foram catalogados como algo que não o agrada: cinema marginal.

O documentário de Mario Abbade mostra esse processo, como o próprio título diz, Da Beleza e do Caos. Pode parecer que juntar entrevistas – uma fala aqui, outra ali, algumas cenas de filmes – é um trabalho fácil de se fazer. Mas notamos que Mario Abbade não buscou essa simplicidade. Algumas entrevistas com Neville são raras, mesmo os que acompanham o cinema brasileiro podem não ter visto muitas delas. Cenas de gravação e em lugares diversos que talvez nunca tenham sido exibidas na TV. Filmes censurados, hoje mostrados com naturalidade, sem censura, por meio do documentário. O trabalho de Abbade é ótimo e importante. Ver essa figura que mostrou ser possível trabalhar com o que quer e, mesmo diante de dificuldades, produzir algo que mude a visão de tudo o que temos sobre o cinema chamado por muitos de marginal, é algo necessário para os novos realizadores que estão procurando seu espaço.

Neville de Almeida: Cronista da Beleza e do Caos vai arrancar risadas, até gargalhadas, de muitos espectadores. Enquanto outros ficarão incrédulos tamanha sua ousadia. O que antes era necessário para uma boa pornochanchada, hoje pode ser visto como assédio, mas sem dúvida Neville mostrou em seus filmes o que era o Brasil. Mostrou o que outros não ousavam mostrar. Por isso foi censurado, tachado e catalogado. Mas o fato é que Neville D’Almeida dirigiu 14 filmes, atuou em uma dezena, e ainda está na ativa, criando, produzindo a mercê de sua liberdade. Porque, mais uma vez, “cinema é liberdade”.

 
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