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  • Amilton Pinheiro *

Filmes testam as fronteiras da liberdade no Festival de Brasília


Um dos filmes mais aguardados do Festival de Brasília, Bixa Travesty, de Claudia Priscilla e Kiko Goifman, exibido no sábado, 22, atendeu as expectativas do público que vibrou com a história de Lynn da Quebrada, uma cantora transgênero de São Paulo. O longa acompanha essa artista transgressora e libertária no seu cotidiano com amigos e família, além de seus shows performáticos.

Os diretores imprimem, no filme, o ritmo dessa artista sem códigos aparentes, que usa o corpo como possibilidades de transgressão e de politização. Sem fronteiras que demarquem os limites que Lynn quer explorar, o espectador é levado ao encontro de sua música, do seu pensamento e do seu corpo, com direito aos seus órgãos genitais. Lynn não se furta de provocar quem quer que seja. Ninguém sai impune de suas músicas e de sua persona artística

Bixa Travesty é um ode aos caminhos libertários que a arte pode exercer para quem faz e para quem a consome. Outro ponto revelador no filme é o cotidiano de Lynn, sem nenhum tipo de acessório. Aí nos deparamos com suas inquietações, seus medos e sua solidão. Os diretores usam a câmera para captar Lynn nas suas intimidades e loucuras, como nas cenas em que ela toma banho com a mãe, revelando suas fragilidades, e quando ela brinca diante do espelho no banheiro do hospital, quando estava se tratando de um câncer nos testículos.

Mas, mesmo na intimidade, Lynn não se mostra totalmente. Ela, personagem, precisa do enigma para não continuar sendo a Lynn da Quebrada, que não tem limites para expor seus questionamentos e sua música. Bixa Travesty mostra um mundo de artistas transgêneros que lutam para vencer preconceitos e indiferenças, algumas vezes devastados pela solidão e insegurança.

 

O diretor André Novais Oliveira tem cadeira cativa no Festival de Brasília. Seu primeiro longa, Ela Volta na Quinta, e o curta Quintal, passaram no festival em 2014 e 2015, respectivamente, saindo inclusive com prêmios. Era quase certo que seu novo longa Temporada entrasse na mostra competitiva, o que aconteceu – filme foi exibido na sexta, 21. Na trama, Juliana (Grace Passô, a força motriz do longa), vai morar em Contagem, na grande Belo Horizonte. Na cidade, ela entra no equipe de combate a endemias. É nessa “temporada” de Juliana na região que o longa se desenvolve.

Novamente, o diretor trabalha com atores não profissionais para contar a história de Temporada, assim como tinha feito nos seus filmes anteriores. O longa é um passo a frente na carreira de André Novais Oliveira, muito em função da atriz profissional, Grace Passô, que consegue dar cadência e solidez ao pequeno cotidiano daquele bairro periférico. O filme ganha consistência e densidade por causa do trabalho orgânico e natural de Grace, o que não poderia ser atingido pelos não atores profissionais que o diretor trabalha.

A personagem de Grace aparece em todas as cenas, e orquestra a composição dos outros atores do filme, que trabalham com o dispositivo da proximidade das histórias dos personagens com as suas próprias. Ou seja, mimetizam suas próprias vidas dentro daqueles personagens. Daí a força e as limitações dos atores não profissionais. No entanto, Temporada não teria as camadas que tem se não fosse o trabalho excepcional da atriz Grace Passô. Depois de Temporada, o diretor André Novais Oliveira terá pela frente um grande desafio: o de se reinventar, caso decida não trabalhar com atores profissionais.

 

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