Pelos caminhos de pedra, chão e asfalto, nas cidades de Igatu e Mucugê, a 5ª edição da Fligê & Tu mostra a sua força e inventividade na intencionalidade assertiva da ótima curadoria da professora Ester Figueiredo que, com sua equipe em Mucugê, apostaram nas ancestralidades e sua conexões com a oralidade e a escrita. Além do artista plástico baiano Marcos Zacariades, que põe em pé as atividades do evento na cidade em que mora, Igatu, dando ênfase nas inter-relações entre literatura, memória, fotografia, objetos e manifestações populares.
Na quinta-feira a noite, 11, em Mucugê, aconteceu a abertura oficial da Fligê & Tu no Centro Cultural da cidade, que foi seguida da Conferência – Literatura e Ancestralidades: o solo originário do gesto, feita pelo professor, filósofo e escritor indígena Danie Munduruku e terminou com um show na Praça dos Garimpeiros do grande artista baiano, uma verdadeira sumidade, o cantor, compositor e pesquisador Mateus Aleluia que com seu cântico ancestral e pan-africano nos revelou os caminhos para a construção de uma nação de fato que reconheça e valorize a força e a beleza dos seus povos, numa espécie de comunhão e prece com o público presente.
Na sexta, 12, em Igatu, no finalzinho da tarde, como num encantamento rosiano, os relatos e as memórias familiares deram o tom e a beleza das atividades na Galeria Arte & Memória, que começou com Cartas poéticas sobre lembranças e abandonos, leituras de cartas feitas por uma moradora local, Maria Antonina Costa, de seu pai, que nasceu, viveu e morreu em Igatu, Eurico Antunes da Costa, mediado por Marcos Zacariades.
Em algumas cartas trocadas entre ele com familiares e amigos, e preservadas pelos parentes, as histórias anônimas desse morador se confundem com as mudanças e transformações ocorridas no pequeno distrito de Igatu, trazendo a riqueza das palavras, das ideias e dos pensamentos desse morador que tinha um senso muito aguçado sobre cidadania e entre o público e o privado.
Em seguida, foi a fez da Conversa Autoral, com a escritora carioca Eliana Alves Cruz, mediada pelo poeta Alex Simões, que falou de seus romances, frutos de muita pesquisa sobre as histórias e oralidades de sua família e da necessidade de combatermos o infame legado da escravidão na vida dos negros no Brasil. “Precisamos de um grito de liberdade. Gente, pare de escravizar outras pessoas”, disse ela numa de suas falas a respeito da sua literatura e do seu entendimento sobre as mazelas do país. E lembrando que os nossos ancestrais estão a nos alerta o tempo todo para quebrarmos de vez as algemas de uma sociedade construída na desigualdade e na incapacidade de conviver com as diferenças.
Por fim, o escritor e curador Diógenes Moura, fez uma espécie de performance com O Julgamento de Deus: o assassino de M, um ensaio feito em cima do romance autoficcional que ele lançou em 2021, Vazão 10.8, A Última Gota de Morfina (Editora Vento Leste), que recompõe algumas histórias de sua irmã única, que morreu de um câncer fulminante, de sua família e dos lugares em que eles viveram. Durante a leitura feita pelo escritor, foram exibidos algumas fotos sobre as histórias contadas no livro.
Em cima da hora
O sábado foi recheado de atividades em Mucugê e em Igatu, com uma mesa, às 14h, sobre literatura e seus processos de cura, com a participação das escritoras Eliana Alves Cruz e Lívia Natália, mediada por Jamile Borges no Centro Cultural da cidade. No mesmo local, às 16h, o escritor Diógenes Moura trouxe novamente seu Julgamento de Deus, mediado pelo jornalista Amilton Pinheiro.
Entre os desdobramentos da Fligê & Tu, tem lugar para o cinema, com exibições de curtas, médias e longas metragens, como O Pátio, de Glauber Rocha, Inflexível Como o Inferno, de Diógenes Moura e Daniel Kfouri, exibido no sábado, 13. Quem estava em Mucugê pode desfrutar de alguns shows na Praça dos Garimpeiros, como da cantora baiana Margareth Menezes apresentando seu Eletroacústico, às 22h.
Enquanto em Igatu, no finalzinho de tarde, na Galeria Arte & Memória acontecem dois encontros autorais, exibição de um documentário e se encerrando com música.
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