A Netflix não cansa de cutucar a ferida com assuntos considerados tabu: primeiro sobre o suicídio de adolescentes na série 13 Reasons Why e, agora, sobre a anorexia com o longa-metragem O Mínimo para Viver, que chegou ao streaming em julho e está causando em polêmica por onde passa. No entanto, por baixo de toda importante discussão sobre a doença, está um filme fraco, sem roteiro competente, e que apenas passa superficialmente por assuntos importantes.
A história é sobre a jovem Ellen (Lily Collins), uma jovem de classe média que enfrenta os problemas da anorexia. Não só ela deixa de comer, como também faz exercícios frequentes para não ter chance de engordar. O resultado é chocante, já que ela fica com um corpo esguio, só osso e pele -- como o próprio nome original do longa-metragem,To the Bone, já informa. A madrasta, então, a interna numa clínica para recuperação, comandada pelo médico William Beckham (Keanu Reeves).
A partir daí, é só desastre. Comandado pela estreante Marti Noxon, o longa-metragem cai numa série de clichês e situações sem fundamento para cumprir duas funções: emocionar e tentar criar vínculo entre o espectador e a personagem de Lily Collins. Para a emoção, Marti abusa de clichês: é a madrasta que parece não se importar, o pai distante, a mãe que está se descobrindo como lésbica, a irmã que fica apagada por conta dos acontecimentos na família. Nada convence, nada é aprofundado.
Para o vínculo com Ellen, a diretora vai além: mostra detalhes da rotina da garota, dando pequenas mostras do que ela faz para conseguir emagrecer. Além disso, não economiza no close na barriga da menina, que está cada vez mais pele e osso. Extremamente chocante, estes trechos estão sendo duramente criticados por algumas pessoas que sofreram com transtornos alimentares. Assim como 13 Reasons Why, falam que pode incentivar outras pessoas a fazer o mesmo. Difícil discussão.
O grande erro, porém, está na dinâmica na clínica comandada por Keanu Reeves. Nada ali é aprofundado. São vários casos de pessoas sofrendo com transtornos alimentares, quer seja anorexia, bulimia ou compulsão por comida. No entanto, nada é dito, nada é explicado, nada é aprofundado. Muitas das coisas, aliás, são meras suposições e não há nenhuma referência para o espectador. Além disso, a diretora cria um romance sem sal, à la A Culpa é das Estrelas, e que é abandonado no meio da trama.
Com esta junção de problemas, O Mínimo para Viver cai numa situação em que o filme não consegue atrair o espectador e, ao mesmo tempo, não consegue se aprofundar na doença da personagem, por mais que Lily Collins se esforce. Desse jeito, o novo filme da Netflix não consegue cumprir com nenhuma das expectativas iniciais e fica apenas na superfície. Se quiser saber mais sobre a doença, vá ver o documentário Thin, de 2006. Este só serve para passar o tempo.
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