Uma companhia de teatro para cegos. Duas bailarinas deficientes visuais. E uma câmera na mão. Essa é a receita do belíssimo documentário nacional Olhando para as Estrelas, que marca a estreia do brasileiro Alexandre Peralta no comando de um longa-metragem e conta a história desta associação que é a única, no mundo, especializada em introduzir cegos na arte do balé.
Apesar da Associação Fernanda Bianchini contar com dezenas de alunas, o documentário focou em duas: Geyza e Thalia. A primeira é uma jovem, na casa dos vinte anos, que é a primeira bailarina da companhia e que precisa se dividir entre os preparativos para seu casamento e as preocupações de ser uma boa profissional. A outra é uma adolescente que busca sua autonomia.
A partir daí, Peralta cria um relato sincero, delicado e muito poético sobre a vida das duas e a rotina da associação, também dando pinceladas sobre a história de Fernanda Bianchini e de César, um outro professor. “A escolha de contar a história das duas foi natural”, conta o cineasta ao Esquina. “Geyza tinha luz, algo que chamou a atenção. E Thalia estava feliz por estar ali, dançando.”
E as escolhas de Peralta não poderiam ser mais acertadas. Geyza tem uma delicadeza em cena que impressiona e mostra um lado ainda mais profissional da Associação Fernanda Bianchini. Já Thalia dá leveza para a tela, mostrando a diversão adolescente de quem está buscando um refúgio da vida cotidiana. É um equilíbrio natural que dá o tom do filme e cria bom ritmo para o filme.
Além disso, a história das duas causa emoção imediata no espectador. Geyza, com a vida já consolidada e quase casada, causa um sentimento diferente de Thalia, que ainda busca sua identidade. “Nós começamos a filmar em 2012”, conta Peralta. “Vimos a vida das duas se transformarem ao longo dos anos, já que acompanhamos a história das duas até o filme de 2015.”
Porém, além da boa escolha de personagens, Olhando para as Estrelas também conta com aspectos técnicos surpreendentes. Apesar de estender o filme mais do que deveria, há mais acertos do que erros. A câmera tem pouca profundidade e traz tons nebulosos à tela, conversando com o tema central da narrativa.
O filme ainda ousa narrativamente, ao deixar todos os depoimentos em off. “Começou como um curta e depois virou um longa”, diz o diretor. “Espero que o maior número possível de pessoas entre em contato com essa história.”
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