Já faz décadas que o cinema é desacreditado. Logo que foi inventado, muitos acreditavam que não passava de um divertimento qualquer, banal. Depois, acharam que a TV iria matar a sétima arte. Depois, o VHS seria o cavaleiro do apocalipse. DVD também já foi alvo dessa teoria. A última bola da vez, claro, foi o streaming. Para muitos, o cinema não resiste muito tempo mais.
No entanto, a Netflix chegou, se consolidou e nada aconteceu. Oras, é claro. São entretenimentos similares, mas bem diferentes em sua essência. Primeiramente, há a experiência coletiva que é impossível de ser reproduzida. É exclusividade das salas de cinema. Mas, principalmente, os grandes filmes não chegavam na Netflix. As grandes bilheterias do ano estavam nos cinemas.
E isso acontecia por conta de um acordo história entre exibidores, distribuidores, estúdios, produtores. Enfim, toda a cadeia de cinema. A sala escura é a chamada primeira janela. É o primeiro lançamento. Ali que tudo começa. Depois vai para a mídia física (DVD, Blu-Ray, etc), pro digital, para a TV fechada e depois, lá no finzinho, chega para a TV aberta e inicia promoções.
Com a pandemia, uma pedra estilhaçou essas janelas. Os cinemas estão fechados. Os estúdios tiveram que decidir. Ou lançavam direto em streaming e diziam adeus ao lançamento "tradicional" ou, então, aguardavam a reabertura. Que não chega nunca -- ainda bem, já que não é momento. Ficou tudo em suspenso. Até que a Disney tomou a atitude inesperada com Mulan.
Um dos filmes mais aguardados do ano, e com maior potencial de bilheteria, o longa-metragem que adapta o conto da guerreira chinesa estava previso para os cinemas. Foi adiado uma, duas, três, quatro vezes. Até que os executivos do Mickey Mouse deram um basta. Decidiram lançar o longa-metragem em PVOD pelo Disney+, cobrando US$ 29,99. Maior lançado digital da história.
E mais: em locais em que os cinemas estão abertos, Mulan vai passar na sala escura. Depois vai para o Disney+. Em locais em que não há previsão (como parte dos EUA), só digital mesmo.
É uma revolução. Um momento que vai ficar na história. Afinal, Mulan é uma produção orçada em US$ 200 milhões. É muito dinheiro. Muito. É um movimento arriscado da Disney, que está colocando o filme em xeque e transformando-o em peça central de uma engrenagem maior. Afinal, se der certo, pode ser que a Disney veja o VOD como um aliado estratégico no mundo.
Assim, caro leitor, aperte os cintos. Se Mulan tiver sucesso, e arrecadar algo minimamente próximo dos US$ 200 milhões, o cinema não será mais o mesmo. A maior empresa do setor de entretenimento hoje vai dar um passo no vazio e, magicamente, criar uma ponte. Que poderá, enfim, fazer cumprir uma daquelas tristes profecias que contei ali no começo desse texto.
Ou, então, Mulan poderá ser um fracasso retumbante. E assim, mais uma vez, o cinema irá triunfar. O que irá acontecer? Só o tempo dirá. E a bilheteria de Mulan no DIsney+, claro.
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