Na última segunda-feira, 11, foram anunciados os indicados ao Globo de Ouro. Vendo as reações no Twitter, percebi que muitas pessoas admitem como verdadeira a expressão de que a premiação é um “termômetro do Oscar”. Nada a ver. Apesar de ser um evento bem divertido e que lembra uma espécie de “festa da firma”, o Globo de Ouro não tem o mesmo status do Oscar. Nem de perto. Só ver que a premiação deste ano, por exemplo, esnobou produções certeiras.
Antes de tudo, é preciso entender como o Oscar e o Globo de Ouro funcionam. No primeiro caso, o processo de escolha do “melhor dos melhores” é mais complexo e, digamos, bem mais sério. Quem decide os vencedores são mais de 5 mil profissionais do cinema, sem ligação com os indicados, que já tenham concorrido ao prêmio. A partir daí, cada integrante indica seu filme ou profissional. Ator vota em ator, diretor vota em diretor e assim por diante. No Melhor Filme, todos votam.
Depois disso, com todos os finalistas definidos, chega a hora de uma votação geral. Todos os integrantes recebem células e, assim, votam em seus favoritos em cada uma das vinte e quatro categorias. Eles devolvem os votos e a Pricewaterhouse Cooper, consultoria, analisa os resultados e prepara a premiação. Até o dia da entrega, só dois profissionais sabem os vencedores, já que eles preparam os envelopes -- e foram eles também que erraram no Melhor Filme de 2017.
Muito bem. Vamos ao Globo de Ouro. Comandado pela Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood -- ou seja, críticos de cinema --, a premiação é definida por 90 profissionais. Isso mesmo: noventa jornalistas e/ou críticos da sétima arte são os únicos e imediatos responsáveis pelas produções que levam os prêmios de melhor filme. E por ter tão poucos integrantes, há um caos generalizado na hora de escolher os indicados e seus vencedores.
Afinal, quando uma premiação conta com 5 mil integrantes, fica bem mais difícil de estúdios e produtoras realizarem lobby. Ele existe, claro, mas é menos intenso, mais discreto e sem grande impacto no resultado final -- ainda que as empresas gastem milhões com material de divulgação. Agora, para convencer 90 pessoas, é muito mais fácil. Basta reunir esse grupo e dar viagens, materiais promocionais e por aí vai. E o pior: esses 90 jornalistas, na maioria, são pessoas sem base.
Veja alguns exemplos, selecionados pelo site Vocativ. Tem o Alexander Nevsky, da Rússia, que estrelou alguns filmes de ação vergonhosos e foi eleito Mister Universo em 2012. E ele ainda tem uma companheira de premiação, a sul-africana Margaret Gardiner, que vendeu o Miss Universo 1978. O indiano Noël de Souz, outro exemplo, interpretou Gandhi em um episódio de Star Trek. Pois é. Essas pessoas -- que não são exceção, mas regra -- são responsáveis por votar no Globo de Ouro.
Há, claro, algumas pessoas muito sérias, como a ótima jornalista e crítica de cinema Ana Maria Bahiana. Só que, como disse, ela é a exceção. Essas pessoas sem currículo algum são as que escolhem os vencedores e indicados de cada ano, resultando em uma premiação bizarra e sem propósito -- só ver que Paul Thomas Anderson, Musbound e Greta Gerwig foram esnobados em 2018, enquanto o apenas mediano Ansel Elgort foi lembrado por Baby Driver.
Por isso, fica a dica: quando for assistir o Globo de Ouro, apenas se divirta e não leve essa premiação a sério. Não ache que o filme que ganhou lá vai ganhar no Oscar. Essa lógica não faz sentido. Só ver como as duas premiações não tem nada a ver uma com a outra. Só veja, se divirta com os atores bêbados e entre no clima do Oscar, que sempre ocorre um ou dois meses após. Esta, sim, uma premiação séria e com poder de mexer com as estruturas e com a história do cinema.
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