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  • Foto do escritorMatheus Mans

Opinião: Romero Britto é arte?


Na última semana, um vídeo de 2017 viralizou na rede. Nele, uma mulher entra na galeria do artista plástico brasileiro Romero Britto, em Miami. Grita algumas palavras e, para surpresa dos presentes, quebra uma escultura na frente de todos. Britto fica perplexo, a mulher é retirada. E pronto. Foi criada, no Twitter e no Facebook, uma rede de risos em cima do artista plástico.


É aí que me vem a grande dúvida: qual o motivo de tanto ódio do artista? Eu mesmo, em um primeiro momento, ri da cena. Busquei outros ângulo, mostrei pra minha namorada, ri novamente. Depois de um tempo, porém, me bateu a dúvida: pra quê isso tudo? Por que eu não gosto do Romero Britto? Por qual motivo acho a arte dele brega? O que aconteceu?


Afinal, oras, ele é brasileiro! Nordestino. Atingiu seu objetivo de vida, faz sucesso no exterior. A galeria dele em Miami é movimentada, sempre cheia. Voltemos às raízes do problema, então.


As raízes do mal de Romero Britto


Com um estilo bem característico, com traços pretos fortes e uso diverso de cores, Britto é um artista polêmico por natureza. De um lado, uma grande parte da "elite intelectual" diz que os quadros, desenhos, pôsteres e esculturas dele são uma farsa. Arte? Que nada. É apenas um cara que faz impressões, pinta num aplicativo qualquer e vende por alguns milhares de dólares.


No entanto, as pessoas -- e aí, vamos continuar com essa segmentação usada -- fora da "elite intelectual" consomem a arte de Britto. Fazem fila na galeria do artista, colocam quadros pendurados na sala de casa, esculturas. Essas pessoas, sem dúvidas, acham que o que possuem em suas mãos é arte. Devem ter orgulho da peça, de exibi-la em sua sala de estar.

Eu mesmo ouvi, repetidas vezes, que Britto não era arte. Na escola, na faculdade... Ao falar no nome do artista, sempre uma cara de nojo, de repulsa. Não é arte, não é arte, não é arte.


Efeitos dessa negação


Apesar de ser engraçado o vídeo da quebra da escultura, essa repulsa toda pela arte de Britto é um problema mais grave do que parece. Primeiramente, a síndrome de segregação que atinge grande parte da "elite intelectual" brasileira. Esse poder de meia dúzia decidir o que é arte ou não apenas afasta as pessoas, o povo, de arte, cinema, teatro, música. Não se sentem incluídas.


Afinal, veja só a situação: uma pessoa não tem noção alguma de arte. Não leu os grandes autores, críticos, estudiosos. Ela acredita, de maneira crua e natural, que um quadro de Britto é arte. Quer colocar na sua casa, comprar, exibir o quadro. Aí, essa tal elite intelectual começa a apontar os dedos, acusar, rir. Essa pessoa, automaticamente, vai se sentir excluída. Até burra.


A partir daí, é natural que haja um afastamento dessa pessoa da arte de Britto. Claro: apenas uma classe média alta tem acesso aos quadros do artista nordestino. No entanto, até mesmo as releituras e reinterpretações dos quadros de Britto -- que, querendo ou não, não tem patente sobre o estilo -- acabam entrando no bolo. E com isso, em decorrência, uma classe mais baixa.

Além disso, há a síndrome de vira-lata. Britto é brasileiro! Faz sucesso no exterior. Como fez Pelé, Gisele Bündchen, Senna, Caetano Veloso, Tom Jobim... Apoiamos esses artistas, esportistas e modelos, entendemos a importância de cada um. O apoio ao Romero Britto é algo que também deveria acontecer. O mundo ri dele? O Brasil, antes de tudo, deveria defendê-lo.


Afastamento de movimentos e artes


Como movimento final, e consequência a longo prazo, acabamos vendo um movimento perigoso de dois lados. Primeiramente, essa pessoa que é rechaçada por usar e gostar da arte de Romero Britto não tenta encontrar novos caminhos. Oras, Britto poderia ser a porta de entrada para novas artes. Novos artistas. A partir dele, as pessoas poderiam conhecer Warhol, Kusama, etc.


Ou nem isso. A pessoa consumiria apenas e restritamente Britto. Mas tudo bem. A pessoa, de alguma maneira, está direcionada para a cultura. Está comprando quadros, esculturas, telas...


Mas, do jeito que estão lidando com o artista brasileiro, apenas estamos afastando, segregando mais. Essa "elite intelectual" é o maior mal que o Brasil -- e a esquerda, mas isso é conversa para outro lugar e outra hora -- poderia ter. A arte é o que o povo acha que é arte. Não o que meia dúzia acha que é. Vamos abraçar, aceitar, colorir, entender. Rechaçar fica pra depois.


Você pode até não gostar dos quadros, esculturas e afins de Romero Britto -- eu mesmo não gosto, acho brega e genérico. Mas isso, de maneira alguma, te dá poderes para dizer que não é arte. Assim como não temos o direito de dizer que funk e sertanejo não é música. Ou que Marvel não é cinema. Ou que auto-ajuda não é literatura. Vamos parar de segregar e abraçar.

 
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