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Foto do escritorMatheus Mans

‘Piano Vermelho’, do autor de ‘Caixa de Pássaros’, é decepção do ano


Muitos se surpreenderam em 2014, quando o estreante Josh Malerman apresentou Caixa de Pássaros ao mundo. Com uma escrita hábil e talentosa, que conseguiu mesclar o horror apocalíptico com o terror psicológico, o livro arrebatou fãs ao redor do mundo. Por isso, foi criada grande expectativa em torno do próximo livro do escritor: seria tão bom quanto seu anterior? Ou será que Caixa de Pássaros foi só um golpe de sorte? A resposta, agora, já foi respondida com Piano Vermelho.

Enquanto Caixa de Pássaros brincou com a visão dos personagens, Piano Vermelho brinca com a audição. Para isso, Malerman cria um conto moderno de terror no qual um som, sem uma origem identificada, é capaz de desarmar armas poderosas e fazer pessoas perderem os sentidos. O exército norte-americano, depois de enviar dois pelotões para o deserto da Namíbia, resolve usar uma aposta arriscada e mandar um grupo de músicos para identificar o tal som.

A partir daí, a narrativa se divide em dois tempos: presente e passado. Nos tempos idos, o autor conta a história da tal expedição no deserto africano. Já no tempo presente, Malerman mostra Philip -- um dos músicos enviados ao local -- se recuperando de um grave acidente após a tentativa de encontrar o som. Numa cama de hospital, ele tenta se estabilizar após quebrar todos os ossos do corpo. Isso mesmo, você não leu errado: o rapaz quebrou todos ossos. Todos.

Neste ponto, o escritor tece uma trama que mistura elementos de aventura, suspense, um tanto de terror psicológico e um punhado de drama. E faz isso muito bem, repetindo o bom trabalho de Caixa dos Pássaros. Mesmo alternando tempos narrativos, a trama não deixa o leitor cansado e faz com que as páginas virem quase sozinhas -- confesso que li mais de 200 em apenas poucas horas. Sem dúvidas, estava segurando um novo de sucesso de Malerman nas mãos.

Até que chegou na grande virada da trama, quando reviravoltas acontecem na recuperação de Philip e na exploração africana. Por algum motivo, nas últimas 100 páginas, Malerman entra numa espiral de acontecimentos surreais e que não correspondem à realidade, sem nenhum tipo de verossimilhança com a realidade proposta até então. Mas, neste ponto, eu ainda acreditava que as coisas iriam se acertar e que esses elementos seriam explicados. É Malerman, é o autor de Caixa dos Pássaros!

Mas isso não acontece. O livro, em sua terceira parte, vira um caos narrativo onde o autor não se decide, seguindo vários caminhos. Há passagens, extremamente cansativas, onde são descritas situações oníricas e que não fazem sentido como um todo. Falta explicação, falta situar o leitor sobre o que está acontecendo. Malerman, porém, prefere praticar a sua escrita poética e que nada acrescenta à narrativa. Nesse momento, eu só queria que Piano Vermelho chegasse ao fim.

E olha que surpresa: o final do livro consegue ser pior que o restante da história inteira. O autor resolve inserir um romance inexistente na história, mostrando que não tem tato para tratar do tema. E pior: finaliza o livro sem explicação alguma sobre TUDO que ocorreu na história. É isso mesmo. O livro termina sem se explicar. Ao contrário de Caixa de Pássaros, que termina com final aberto, Piano Vermelho parece preguiça de Malerman. Afinal, pra que criar um final se as pessoas vão imaginar?

Agora, após Piano Vermelho, o autor precisará se provar novamente com seus próximos lançamentos -- ainda não definidos e nem detalhados. Ainda não decifrei se o livro Caixa de Pássaros foi golpe de sorte ou se Piano Vermelho foi uma pedra no meio do caminho. Agora, é esperar o próximo livro de Malerman e tirar a decisão final. Mas uma coisa é certa até lá: com certeza esperarei o próximo livro do escritor com muito menos expectativa. Muito menos.

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