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Foto do escritorAmilton Pinheiro

Quem deve ganhar o Oscar 2024? Confira as apostas da equipe do 'Esquina'



Quando o diretor, roteirista e produtor britânico Christopher Nolan subir no palco do Dolby Theatre, em Los Angeles, EUA, no final de tarde deste domingo, 10, ele fará parte de uma legião de vencedores do Oscar que foram premiados por trabalhos inferiores ao que já tinham realizados na carreiras e/ou entre os indicados daquele ano. Ele deve receber os prêmios de direção e de melhor filme por Oppenheimer, produzido por ele, Emma Thomas e Charles Rover.


Além disso, ele poderá levar é de roteiro adaptado, esse merecedor, mas que talvez caia nas mãos de Cord Jefferson, de Ficção Americana.


Quem acompanha o Oscar ao longo de todos esses anos sabe das inúmeras injustiças que prêmio já cometeu, algumas inaceitáveis, quando, por exemplo, as atrizes Fernanda Montenegro de Central do Brasil e Cate Blanchett de Elizabeth perderam para o trabalho mais fraco das atrizes indicadas de 1999 para Gwyneth Paltrow, por Shakespeare Apaixonado.


E pior: Gwyneth não tinha feito até então nenhum papel que merecesse ter concorrido ao Oscar, o que poderia justificar o prêmio, seguindo a lógica do Oscar de contemplar o artista no ano em que ele não merece por alguma injustiça cometida no passado. O que é mais irônico é que no ano em que a atriz fez um trabalho infinitamente superior ao de Shakespeare Apaixonado, ela nem foi indicada ao Oscar. Falamos do papel da poetisa Sylvia Plath (1932-1963) no razoável Sylvia: Além das Palavras, de 2003, uma interpretação mais elaborada, com nuances e empatia com o público, diferente da sua composição insossa em Shakespeare Apaixonado.


Mas antes de entrar no conteúdo principal da matéria, que são as apostas dos críticos do Esquina para os vencedores, cabe aqui entender o que acontecerá com um dos principais indicados que concorre nesta 96a do Oscar.


E o Oscar vai para…. Quem merecia, mas por outro trabalho que não este


Taxi Driver, Motorista de Táxi (1976) é um dos melhores filmes da carreira de Martin Scorsese – que este ano concorre pela direção e filme com Assassinos da Lua das Flores. Apesar de ter sido indicado como um dos melhores longas no Oscar de 1977, inexplicavelmente não concorreu a melhor direção. Um absurdo, como atestou o tempo em relação a essa quase obra prima de Scorsese.


Mas até ganhar o Oscar de direção sem merecer em 2007, por um dos seus poucos filmes fracos, Os Infiltrados (2006), Martin Scorsese recebeu outras indicações anteriores da Academia em que deveria ter saído vencedor como, por exemplo, Touro Indomável, seu melhor filme da carreira (1980), o injustiçado e provocativo A Última Tentação de Cristo (1989), o genial Bons Companheiros (1990). E posteriormente ao prêmio por Os Infiltrados, sua direção era melhor em filmes como: O Lobo de Wall Street (2013), Silêncio (2016) e em O Irlandês (2019).



Seguindo a lógica de premiação do Oscar, de contemplar um indicado por um trabalho que não merece, Scorsese terá que amargar mais uma derrota de direção e de filme por um dos seus melhores e mais significativos longas da carreira, Assassinos da Lua das Flores, agora para o Christopher Nolan por Oppenheimer, que já dirigiu produções mais ousadas e criativas como A Origem (2010) e Dunkirk (2017). Restará ao Nolan no futuro dirigir filmes melhores que Oppenheimer e correr o risco de nem ser nominado ao Oscar e/ou concorrer e perder por um trabalho inferior ao seu -- a lógica do Oscar é implacável e não tem prazo para acabar).


Depois da temporada de premiações antes do Oscar, que surpresas ainda restarão nas categorias principais?


Nas categorias principais (filme, direção, ator e atriz principal e coadjuvantes, roteiro original e adaptado) do Oscar deste ano, são poucas as chances de termos ainda alguma surpresa que a temporada de premiações que antecede ao Oscar não tenha revelado (prêmios da crítica especializada, o Globo de Ouro, o BAFTA e dos Sindicados dos profissionais de Cinema dos EUA).


Com as certezas dos vencedores de melhor filme Oppenheimer, direção para Christopher Nolan por Oppenheimer, ator coadjuvante para Robert Downey Jr. por Oppenheimer, atriz coadjuvante para Da'Vine Joy Randolph por Os Rejeitados e roteiro original para Anatomia de Uma Queda, restarão, se é que irá acontecer, algumas dúvidas.


São elas em relação a melhor ator entre Cillian Murphy por Oppenheimer, o mais provável, e Paul Giamatti por Os Rejeitados; melhor atriz para Lily Gladstone por Assassinos da Lua das Flores, quase com as mãos na estatueta, e Emma Stone por Pobres Criaturas; e roteiro adaptado entre Cord Jefferson, de Ficção Americana, na frente, e Christopher Nolan por Oppenheimer.


A seguir, as apostas do Esquina para o Oscar 2024


Melhor Filme


  • Amilton Pinheiro, curador do Fest Aruanda e membro-fundador da Abraccine: Oppenheimer. Por representar um filme que tem a cara do Oscar, ainda mais trazendo uma história real, a de um personagem da estatura do criador da Bomba Atômica, que trouxe consequências não somente para a vida do povo americano, como também para a de outras nações e contemplando um dos temas mais impactantes da humanidade, a tragédia imensurável da Segunda Guerra Mundial. Filme de temática forte, dramática e real. Mas não é o melhor filme dos dez. Mesmo com todo apuro técnico, que sobressai mais do que o lado artístico e conceitual do filme, o filme em determinados momentos se arrasta, fica confuso pela quantidade de informações sobre os acontecimentos, etc. Mas como falamos na matéria, é o “Ano de Ouro” de Christopher Nolan, de reconhecer não o filme em questão, Oppenheimer, mas sua carreira.


  • Domenico Minervino, jornalista e escritor do livro O Velho Preconceituoso: Zona de Interesse deve ganhar, apesar de que Pobres Criaturas é o filme que merecia. No final, talvez nenhum dos dois leve e se confirme o favorito, Oppenheimer. Mas, o mais diferente dentre os indicados é realmente Pobres Criaturas. O injustiçado do ano? Napoleão.


  • Matheus Mans, crítico de cinema, votante na Online Film Critics Society e jornalista: Oppenheimer. Não tenho dúvidas de que o filme de Nolan -- que também é meu preferido na corrida -- vai levar a estatueta para casa. Não só é um dos filmes mais maduros dentre os contemplados, em uma das melhores corridas pelo Oscar que já vi, como também trata de assuntos que a Academia adora premiar, falando também sobre a falência da sociedade americana como um todo. É o ano de Nolan.


Melhor Direção


  • Amilton: Christopher Nolan, por Oppenheimer. O Oscar tem essa de eleger que este é o ano de premiação de alguns dos seus indicados, e este é o ano do diretor britânico Christopher Nolan que tem no currículo obras cultuadas pelo público e pela crítica e que tiveram boa bilheteria e acolhida da crítica, como A Origem, sua obra máxima, Dunkirk, que a Academia não deu o devido reconhecimento, Batman: O Cavalheiro das Trevas e Amnésia. Ganhará pelo conjunto da obra e não pela trabalho específico, que é a direção de Oppenheimer. O prêmio de direção deveria ir para Martin Scorsese por um dos seus melhores filmes da carreira, Assassinos da Lua das Flores, um primor de apuro estético, rigor técnico, uma história comovente e envolvente e muito bem narrada cinematograficamente.


  • Domenico: Martin Scorsese vai e deveria ganhar por Assassinos da Lua das Flores.


  • Matheus: Christopher Nolan, por Oppenheimer. Acredito que o prêmio deveria ser para Martin Scorsese por Assassinos da Lua das Flores, por ser uma direção bem mais complicada, cheia de pormenores que só um grande diretor consegue colocar na tela. Mas não tem como: Nolan fez a limpa na temporada e já reservou um lugar na estante por seu trabalho interessante, ainda que por vezes protocolar, em Oppenheimer.

Melhor Ator


  • Amilton: Cillian Murphy, por Oppenheimer. Mesmo tendo uma carreira respeitada pela crítica, o ator e músico irlandês Cillian Murphy nunca havia sido indicado ao Oscar, apesar de ter no currículo um trabalho que se destacou nas premiações em 2006, Café da Manhã em Plutão, do também irlandês Neil Jordan. Ao longo desses anos ele colaborou nos principais filmes do diretor Christopher Nolan, como A Origem, Dunkirk e os filmes do Batman, ganhando de Nolan o papel principal em Oppenheimer, o do criador da bomba atômica, J. Robert Oppenheimer, recebendo não somente sua primeira indicação, como também entrando na disputa como o mais forte candidato ao Oscar de melhor ator. Seu papel é discreto e sem arroubos, mas é eficiente e pesa ao seu favor participar do grande filme do Oscar deste ano, com o maior número de indicações, 13 ao todo. Mas fica aqui o gostinho de contemplar Paul Giamatti subindo ao palco depois de escutar seu nome e seu trabalho exemplar em Os Rejeitados, de Alexander Payne, num reconhecimento não somente pelo belo trabalho no filme como também pela carreira respeitada pelo público e crítica.


  • Domenico: Cillian Murphy vai ganhar, mas Colman Domingo deveria levar. É a grata surpresa desse ano.


  • Matheus: Paul Giamatti, por Os Rejeitados. Ainda que Cillian Murphy tenha entrado de cabeça na disputa pelo prêmio, fazendo uma campanha agressiva depois de vacilar no início, ainda acho que os votantes vão seguir o caminho de premiar Giamatti -- apesar da temporada estar indicando um caminho mais quente para Murphy. Acho o trabalho do protagonista de Oppenheimer bem mais complicado, mas Giamatti também acerta na construção de um personagem complexo, que mistura suas dores com uma aspereza inebriante. Na briga, acho que a Academia deve ir pelo lado da homenagem.



Melhor Atriz


  • Amilton: Lily Gladstone, por Assassinos da Lua das Flores. A atriz Emma Stone estava ganhando terreno na conquista do seu segundo Oscar, iria chegar quase imbatível na premiação do Oscar de melhor atriz, mas foi atropelada pela conquista da atriz de origem indígena Lily Gladstone que venceu o prêmio mais importante da temporada pré-Oscar, considerado o melhor indicador para o vencedor do Oscar, o SAG, prêmio do Sindicato dos Atores dos Estados Unidos. Emma havia vencido o Globo de Ouro de atriz de filme Comédia ou Musical, o BAFTA e o Critics Choice Awards. Mas antes do SAG, Lily Gladstone venceu o Globo de Ouro, assim como sua maior rival nessa edição do Oscar, como melhor atriz de filme Drama. No seu belo discurso no Globo do Ouro, Lily chamou a atenção para seu prêmio, já que foi a primeira atriz de origem indígena (apesar de ter origem também europeia) a ganhar um Globo de Ouro. “Está é uma vitória histórica. Não pertence apenas a mim. Isto é para cada criança nativa que tem um sonho”. Alguém pode dizer que Lily ganhará pela representatividade e pelo momento que vivemos de inclusão, etc, mas o seu trabalho tem inúmeras qualidades, um papel difícil, quase silencioso, minimalista e rico em significados, um trabalho extremamente gestual, pelo olhar de desamparo e fragilidade, o que a torna uma escolha justa, mesmo que Emma também esteja ótima. Diferente do que aconteceu quando Emma Stone que ganhou por um trabalho mediano o seu Oscar de melhor atriz por La La Land, de Damien Chazelle, o que pode determinar a sua derrota neste ano, mesmo que, agora, pelo ótimo trabalho em Pobres Criaturas. Ou seja, ter vencido sem merecer. O Oscar e seus prêmios sem merecimento ou prêmios de consolação (pelo conjunto da carreira) determinando mais uma vez as escolhas.


  • Domenico: Annette Benning, por Nyad. Emma Stone corre por fora.


  • Matheus: Lily Gladstone, por Assassinos da Lua das Flores. A meu ver, a categoria mais difícil de prever. Emma Stone estava muito à frente, mas Lily Gladstone consegui colar na já vencedora do Oscar. Queria apostar em um empate, mas acho impossível. No fim das contas, a atriz de Assassinos da Lua das Flores é a que tem o papel mais desafiador.


Melhor Ator Coadjuvante


  • Amilton: Robert Downey Jr. por Oppenheimer. Robert Downey Jr. falou na imprensa que a melhor coisa que aconteceu na primeira vez que concorreu ao Oscar em 1992, de melhor ator, pelo seu trabalho no filme Chaplin, de Richard Attenborough, foi não ter vencido. “Eu era jovem e louco”. E acrescentou que se tivesse vencido, perdeu para Al Pacino por Perfume de Mulher, pensaria que estava no caminho certo, o que o tempo mostrou que não, segundo ele, dado a sua vida de excessos de bebidas, drogas, remédios, relacionamentos tumultuados, etc. O ator volta novamente a premiação pelo trabalho preciso e correto de Lewis Strauss, maior opositor de Oppenheimer, que na época era presidente da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos. Apesar de ter concorrentes a altura do seu trabalho, como Robert De Niro em Assassinos da Lua Flores e Mark Ruffalo por Pobres Criaturas, sua vitória não será injusta e muito menos contestada. E que fique bem claro que não é um prêmio pela carreira e sim pelo desempenho em Oppenheimer.


  • Domenico: Robert de Niro, por Assassinos da Lua das Flores.


  • Matheus: Robert Downey Jr., por Oppenheimer. Impressionante como esta é uma categoria sem discussão. Apesar da minha torcida para Robert De Niro, Downey Jr. está com o Oscar na mão.

Melhor Atriz Coadjuvante


  • Amilton: Da'Vine Joy Randolph, por Os Rejeitados. A atriz Da'Vine Joy Randolph ganhou quase todos os prêmios pré-Oscar, não deixando qualquer dúvida que ela daqui a pouco estará com sua estatueta em casa. Ela faz uma bela trinca com seus outros parceiros de cena no filme Os Rejeitados, os atores Paul Giamatti e Dominic Sessa, vivendo a comovente personagem Mary Lamb, a cozinheira de um colégio nos anos 1970, que tem que conviver com a perda do seu filho na Guerra do Vietnã, sem ter com quem desabafar. Um trabalho em que a razão vive ao lado da emoção em pleno silêncio de escuta.

  • Domenico: Jodie Foster, por Nyad. E acho que Anne Hathaway foi injustiçada por Eillen.


  • Matheus: Da'Vine Joy Randolph, por Os Rejeitados. Outra categoria sem surpresas. Ainda que não ache a melhor da categoria, preferindo a pouco comentada Jodie Foster, é Da'Vine quem vai levar o Oscar.

Melhor Roteiro Original


  • Amilton: Justine Triet e Arthur Harari, por Anatomia de Uma Queda. Chega no Oscar com o prêmio máximo do maior festival do mundo e o mais respeitado, o de Cannes, na França, quando saiu com a Palma de Ouro no ano passado. Essa história de tribunal traz diálogos precisos e milimetricamente escritos, uma meticulosa construção de suas cenas, fora e dentro do tribunal e uma maestria na condução dos hiatos do tempo. O filme francês, que foi preterido pela França na sua indicação para Filme Internacional, chegou no Oscar com personalidade ao ser indicado em cinco categorias, entre elas, filme e direção. Um prêmio merecido e justo para um roteiro bem articulado entre diálogos e construção de cenas e personagens.


  • Domenico: Justine Triet e Arthur Harari, por Anatomia de Uma Queda. 


  • Matheus: Justine Triet e Arthur Harari, por Anatomia de Uma Queda. Já deixei claro, na crítica para o Esquina, que não sou um grande fã de Anatomia de uma Queda -- acho o filme apenas razoável, não espetacular. Mas o Oscar já é de Triet e de seu marido, Harari. Se eu fosse votar, não tenha dúvidas de que escolheria o espetacular Segredos de um Escândalo.

Melhor Roteiro Adaptado


  • Amilton: Cord Jefferson por Ficção Americana. O filme Oppenheimer não somente recebeu a maior quantidade de indicações no Oscar deste ano, como chega praticamente gravando a vitória em melhor filme e em direção, melhor ator coadjuvante, melhor fotografia, etc, além de grandes chances em outras categorias, como a de roteiro adaptado, de Christopher Nolan, que é baseado no livro Oppenheimer – O triunfo e a tragédia do Prometeu americano, de Kai Bird e Martin J. Sherwin. Geralmente o Oscar de roteiro, seja original ou adaptado, vai para os filmes que se destacaram na temporada, os que viraram queridinhos da crítica especializada ou que chegam para ganhar o prêmio máximo do Oscar, de melhor filme, como é o caso de Oppenheimer, que era dado como quase certo sua vitória na categoria de roteiro adaptado. Mas esqueceram de avisar ao roteirista e diretor Christopher Nolan que havia um filme na temporada do Oscar que começou a fazer barulho, causar surpresas e elogios: American Fiction, de Cord Jefferson, principalmente em relação ao roteiro ágil, provocativo, enxuto, com afiados e irônicos diálogos sobre o mercado editorial e as artimanhas e controle sobre o que e com um escritor negro deva escrever. Deve ficar entre esses dois roteiros, com uma certa vantagem para American Fiction.


  • Domenico: Pobres Criaturas. Injustiçado do ano é Napoleão.


  • Matheus: Christopher Nolan por Oppenheimer. Por mais que Ficção Americana tenha ganhado força na parte final da corrida, ainda acho que Oppenheimer vai selar seu favoritismo já na categoria de roteiro adaptado. A complexidade de transportar as páginas da biografia para as telonas devem fazer a diferença na briga final.


Melhor Fotografia


  • Amilton: Hoyte Van Hoytema, por Oppenheimer. Um dos grandes trunfos técnicos de Oppenheimer é seu apuro visual e sua fotografia robusta, de encher os olhos de qualquer espectador que acompanha a saga épica da construção da bomba atômica pelos Estados Unidos, com o uso do preto e branco e do colorido no filme e as gradações da fotografia e seus tons fortes nos testes feitos no deserto para saber a capacidade de destruição do artefato e seus tons frios nas cenas em preto e branco. Coube ao diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema, que já trabalhou com o diretor em Dunkirk, intercalar essas variações de lentes no decorrer das quase três horas de filme e nos entregar um filme apuradamente fotografado.


  • Domenico: Assassinos da Lua das Flores vai levar. Pobres Criaturas merecia.

  • Matheus: Hoyte Van Hoytema, por Oppenheimer. A briga está principalmente entre Oppenheimer e Assassinos da Lua das Flores. Eu, particularmente, prefiro este último, mas Oppenheimer deve fazer frente e levar o prêmio enfim, principalmente pelo bom trabalho de intercalar as cenas coloridas com o preto e branco, além de momentos que são pura fotografia, como o excepcional teste da bomba -- que deve ajudar o filme também na categoria de Som.


Melhor Edição


  • Amilton: Thelma Schoonmaker por Assassinos da Lua das Flores. Uma parceria de êxitos e de criatividade entre a montadora Thelma Schoonmaker que trabalha com o diretor Martin Scorsese há mais de 50 anos e já tem na gaveta três estatuetas douradas do Oscar no currículo. Ela volta a parceria com Scorsese nesse belo e denso drama de época, Assassinos da Lua da Flores, contribuindo com o diretor nessa no êxito dessa complexa história ocorrida nos anos 1920 numa tribo indígena americana, com personagens e narrativa densas e com as idas e vindas no tempo, articulando memoravelmente as cenas filmadas para compor esse mosaico de apagamento fatalístico e histórico e construir as camadas necessárias para dar conta de uma história importante e negligenciada por Hollywood e por quem trabalhou nela ao longo desses mais de 90 anos.


  • Domenico: Assassinos da Lua das Flores vai levar. Pobres Criaturas merecia.


  • Matheus: Thelma Schoonmaker por Assassinos da Lua das Flores. Acredito que a duração excessiva do filme de Scorsese pode atrapalhar esta vitória, com aquele velho discurso de que o longa poderia ser menos longo -- colocando Oppenheimer e até Anatomia de uma Queda no páreo. Mas ainda acho que Assassinos da Lua das Flores vence o prêmio, em uma das poucas vitórias técnicas (e merecidas) de Scorsese.


Melhor Design de Produção


  • Amilton: Shona Heath e James Price por Pobres Criaturas. O filme Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos, tem um forte apelo visual com seus contrastes entre o preto e branco e as aberrantes colorações, criando um universo rico em objetos c e cenários incomuns nessa produção que mistura o fantástico e um filme de época. A dupla Shona Heath e James Price criou esse mundo fantasticamente estilizado e idealizado na história de Pobres Criaturas, um dos grandes filmes da temporada do Oscar, com uma narrativa envolvente, e complexa, personagens interessantes e belamente interpretados. Quem pode rivalizar nessa categoria de Designer de Produção é o filme Barbie, de Greta Gerwig.


  • Domenico: Shona Heath e James Price por Pobres Criaturas. Napoleão foi injustiçado.


  • Matheus: Shona Heath e James Price por Pobres Criaturas. Que os deuses do cinema afastem Barbie de uma provável vitória nesta categoria. Afinal, o trabalho de design de produção em Pobres Criaturas é espetacular: desde a criação visual dos personagens em si, mas também em toda a criação desse mundo tragicamente colorido pelos olhos de Bella Baxter.



Melhor Figurino


  • Amilton: Jacqueline Durran por Barbie. Mesmo que os figurinos de Pobres Criaturas sejam mais ricos, desafiadores e criativos que os do filme Barbie, o Oscar na categoria de Figurino deve cair nas mãos da oscarizada Jacqueline Durran que tem uma estatueta no currículo pelo trabalho no filme Anna Karenina (2013) e três indicações, mas não deixa de ser injusto, já que os poucos méritos desse filme irregular e um tanto quanto bobo são seus figurinos e cenários.


  • Domenico: Napoleão.


  • Matheus: Holly Waddington por Pobres Criaturas. Essa aposta aqui é mais uma birra do que uma aposta certeira. Por mais que acredite na vitória quase certa de Barbie aqui, espero e torço muito -- enfim, apostando nisso -- que Pobres Criaturas consiga correr por fora e varrer o filme da boneca pra baixo do tapete. Afinal, o figurino do filme de Yorgos Lanthimos ajuda muito a contar a história e a mostrar quem é Bella Baxter.


Melhor Trilha Sonora


  • Amilton: Robbie Robertson por Assassinos da Lua das Flores. Se o guitarrista, compositor e ex-integrante da The Band nos anos de 1970, arranjador e autor de trilhas sonoras de filmes, Robbie Robertson, ganhar o Oscar pelo filme Assassinos da Lua das Flores, será um prêmio póstumo, já que Robertson morreu no ano passado, em 9 de agosto de 2023, aos 80 anos, e carregado de simbolismos. Filho de mãe indígena das Seis Nações do Grande Rio, no Canadá, Robertson falava que gostaria de ter trabalhado mais em histórias que resgatassem os povos originários americanos e do Canadá e era um parceiro de longa data de Scorsese como consultor musical e autor das trilhas dos filmes A Cor do Dinheiro (1986), O Rei da Comédia (1982) e O Irlandês (2019).


  • Domenico: John Williams por Indiana Jones e a Relíquia do Destino.


  • Matheus: Robbie Robertson por Assassinos da Lua das Flores. Acredito que há uma briga bem forte aqui entre Assassinos e Pobres Criaturas, mas o filme de Scorsese tem muito mais a dizer com sua trilha do que o longa de Yorgos Lanthimos -- fora todo o simbolismo de ser um prêmio póstumo e pelo significado para os povos nativos.


Melhor Som


  • Amilton: Oppenheimer. Uma cena em especial chama a atenção para o trabalho de som no filme Oppenheimer, quando eles vão fazer os primeiros testes da Bomba Atômica que estava ainda sendo avaliada pela Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos. O espectador sente uma espécie de zumbido, uma propagação em camadas, quando a bomba é ativada, causando um estrondo no final no ouvido do público. O filme também ganhou alguns prêmios dos profissionais da categoria, o que o leva a chegar com mais força no Oscar.


  • Domenico: Missão: Impossível - Acerto de Contas. O injustiçado do ano foi O Assassino.


  • Matheus: Oppenheimer. Acredito que a cena da bomba atômica já deu o prêmio para o filme de Nolan. Sem grandes surpresas aqui.


Melhor Efeitos Visuais


  • Amilton: Resistência. O grande vencedor dos profissionais da categoria de efeitos visuais, Resistência, de Gareth Edwards, chega ao Oscar fortalecido pelo prêmio, mas tem Guardiões da Galáxia Volume 3, de James Gunn, no seu caminho, o que será um bom embate e uma das surpresas da premiação.


  • Domenico: Guardiões da Galáxia Vol. 3. 


  • Matheus: Guardiões da Galáxia Vol. 3. O embate é grande entre Guardiões da Galáxia Vol. 3, Resistência e Godzilla Minus One -- com o verdadeiro merecedor do prêmio fora do prêmio, Pobres Criaturas. No embate esses três, acredito que Guardiões 3 é o que tem mais força, não apenas pelos efeitos, mas também pela popularidade.

Melhor Cabelo e Maquiagem


  • Amilton: Maestro. Um dos maiores méritos na passagem de tempo no filme Maestro, e, portanto, no convincente envelhecimento dos personagens principais, de Bradley Cooper, é o trabalho primoroso do cabelo e maquiagem, tornando tudo crível aos olhos do espectador e dando veracidade a história contada.


  • Domenico: A Sociedade da Neve.


  • Matheus: A Sociedade da Neve. Categoria complicada. Oppenheimer e Pobres Criaturas não são os típicos vencedores da categoria. Golda e Maestro estão cercados de polêmicas acerca da representação de judeus. Por isso, acho que fica com o azarão: A Sociedade da Neve, que acerta na forma que mostra a passagem de tempo e, principalmente, a forma que os sobreviventes da tragédia emagrecem.


Melhor Canção Original


  • Amilton: What Was I Made For?, de Billie Eilish e Finneas Baird O`Connell para Barbie. Apesar do relativamente pouco tempo de carreira, a cantora Billie Eilish vem fazendo história na indústria da música americana e mundial, com inúmeros prêmios, sucesso de público e de crítica. Caso ganhe mais um Oscar (ele tem um pela canção No Time To Die, do filme de sobre James Bond), agora, pela canção original What Was I Made For?, que ela fez em parceria com seu irmão, Finneas Baird O`Connell para Barbie, de Greta Gerwig, ela fará história como a mais jovem artista a ganhar dois Oscars, o que será mais um feito na trajetória meteórica dessa talentosa cantora. Para fortalecer ainda mais sua vitória, ela não tem nenhuma outra canção na disputa com a qualidade de letra e de melodia.


  • Domenico: What Was I Made For?, de Billie Eilish e Finneas Baird O`Connell para Barbie.


  • Matheus: What Was I Made For?, de Billie Eilish e Finneas Baird O`Connell para Barbie. Não tem pra ninguém. Será o segundo Oscar da cantora de 22 anos.


Melhor Animação


  • Amilton: Homem-Aranha: Através do Aranhaverso. Uma das categorias mais internacionalizadas do Oscar (veja matéria no Esquina), com três animações, das cinco indicadas, feitas fora dos Estados Unidos, o que é algo a ser destacado e comemorado, já que o domínio da indústria de animação made in EUA é quase autossuficiente, o que por outro lado é um ledo engano, como mostras as outras produções. Mas mesmo com a excelência da animação O Menino e a Garça, de um mestre da área, o japonês Hayao Miyazaki, com suas histórias humanas, fabulares e cheias de beleza e encantamento, aliado ao preciso contornos dos traços de suas animações, o prêmio vai para a produção americana Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, de Joaquim dos Santos, Kemp Powers e Justin K. Thompson, o que não se pode interpretar como um prêmio injusto.


  • Domenico: Elementos.


  • Matheus: Homem-Aranha: Através do Aranhaverso. Por mais que O Menino e a Garça seja, de longe, o melhor da categoria, acredito que a complexidade do filme de Miyazaki não vá bem dentre os votantes da Academia. Por isso, vai ficar com o grande trailer que é Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, filme bem inferior ao primeiro longa.


Melhor Documentário


  • Amilton: 20 Dias em Mariupol, de Mstyslav Chernov. Assim que a Rússia invadiu e sitiou a cidade ucraniana de Mariupol, em fevereiro de 2002, o que iria deflagar junto com outras invasões a guerra da Rússia contra a Ucrânia, alguns fotojornalistas foram cobrir o que estava acontecendo na cidade. Registraram uma cidade devastada pela guerra, mostrando in loco o que é uma guerra de perto. O filme do fotojornalista e documentarista Mstyslav Chernov traz a crônica filmada do terror e insanidade de uma guerra seja qual dimensão ela tenha. O documentário, além de imagens impressionantes, é muito bem montado pela parceria do diretor, Michelle Mizner, e o prêmio, além de contemplar os méritos do documentário, será importante para que a Guerra da Ucrânia chegue ao fim.


  • Domenico: 20 Dias em Mariupol, de Mstyslav Chernov. 


  • Matheus: 20 Dias em Mariupol, de Mstyslav Chernov. Acho o longa-metragem de um mal gosto tenebroso, expondo pessoas sem necessidade -- faltou cinema aqui, já que está mais para uma grande reportagem. Ainda assim, a força da temática deve colocar 20 Dias em Mariupol no topo da categoria.


Filme Internacional


  • Amilton: Zona de Interesse, de Jonathan Glazer. Uma categoria muito forte, com cinco produções de bom para ótimo. Mas o filme inglês Zona de Interesse, de Jonathan Glazer, chega na frente na conquista do Oscar de Melhor Filme Internacional pelas outras indicações importantes que recebeu, entre elas, filme e direção para Jonathan Glazer, o que já no passado, quando A Vida é Bela, Roberto Benigni, que concorreu como melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro, em 1999, a categoria levava esse nome (o filme de Benigni venceu como melhor filme estrangeiro). Mas além disso, Zona de Interesse é um dos melhores filmes da temporada do Oscar deste ano, com seu perturbado retrato do Holocausto pela ótica de uma família alemã que vive numa casa idílica ao redor do campo de Concentração de Auschwitz, mostrando a incômoda vida rotineira daquela clã em torno dos horrores que acontecia ali perto. Bem dirigido, interpretado, tecnicamente impecável, nos tirando da zona de conforto.


  • Domenico: Zona de Interesse, de Jonathan Glazer. Mas Io Capitano merecia.


  • Matheus: Zona de Interesse, de Jonathan Glazer. Além de ser muito bom, Zona de Interesse entra em uma matemática simples: o longa-metragem de Glazer está indicado nas categorias principais, colocando-o muito à frente dos outros concorrentes.


Melhor Curta de Animação


  • Amilton: Ninety-Five Senses, de Jared Hess e Jerush Hess. Ninety-Five Senses, de Jared Hess e Jerush Hess é uma animação documental que conta as últimas reflexões de um preso no corredor da morte, que rememora sobre suas ações na vida, inclusive o ato que o levou a cadeia e a pena de morte, de como nossas ações afetam em definitivo a vida de outras pessoas e a nossa própria vida. Com seus traços em nanquim, que vão se construindo e se desconstruindo em outras figuras, a narrativa é frenética num emaranhado de traços e de criações de situações, cenários e figuras. Um exercício estilístico sem esquecer o conteúdo da mensagem.


  • Domenico: War Is Over! Inspired by the Music of John & Yoko. Mas Ninety-Five Senses merecia.


  • Matheus: War Is Over! Inspired by the Music of John & Yoko. Achei a categoria com os indicados mais fracos dos últimos 10 anos. Quase nenhum se salva. Mas acho que a Academia vai querer premiar o curta (ou seria melhor propaganda?) de John e Yoko.


Melhor Curta de Live-Action


  • Amilton: A Incrível História de Henry Sugar, de Wes Anderson. Um projeto pessoal do diretor Wes Anderson com o selo Netflix e no elenco o ator Benedict Cumberbatch. Conta a história de um trapaceiro que busca uma técnica infalível para trapacear no jogo. Além de todas essas chancelas para colocá-lo na dianteira de melhor curta de live-action, o curta traz a marca sempre criativa e nada comum de Anderson narrar suas histórias.


  • Domenico: A Incrível História de Henry Sugar, de Wes Anderson.


  • Matheus: A Incrível História de Henry Sugar, de Wes Anderson. Além de ter a marca de Anderson, o curta-metragem chega com o selo da Netflix, qualidade de narrativa e, acima de tudo, como uma forma de corrigir a injustiça com o diretor pela esnobada no maduro e consistente Asteroid City.


Melhor Documentário em Curta


  • Amilton: Nai Nai & Wài Pó, de Sean Wang. Foi chegando devagar nas bolsas de apostas e ganhou o selo da Disney, nesse retrato memorialístico das histórias das duas avós do diretor e o legado que elas irão deixar. Singelo e simples na sua narrativa, o filme traz uma história universal e comovente.


  • Domenico: The ABCs of Book Banning.


  • Matheus: Nai Nai & Wài Pó, de Sean Wang. Assim como a categoria de animação, também achei esta aqui com indicados fraquíssimos. Acho Nai Nai & Wài Pó o único com algo mais a dizer.

 


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