Razão e religião não se misturam? Fé nega a evolução biológica? Se você respondeu "sim" para essas últimas questões, vá correndo ler o livro-ensaio A Mente de Deus, do neurologista Jay Lombard. Em pouco mais de 250 páginas, o escritor norte-americano traz questões biológicas comprovadas para levantar teses sobre as crenças da humanidade, a possível origem do Universo e, claro, sobre a "mente por trás do criador".
Antes de tudo: A Mente de Deus, ao contrário do que o título possa sugerir, não tem um direcionamento único para seu público, tampouco é regida por alguma religião ou crença fixa. Lombard, desde o primeiro capítulo, deixa claro que o livro está embasado apenas em preceitos científicos comprovados e que as diferentes visões sobre o mundo, de acordo com as centenas de religiões existentes, não norteiam seu pensamento ou análise. É uma obra que agrada religiosos, ateus, agnósticos, cientistas, descrentes.
Assim, A Mente de Deus já começa à frente de outros livros do gênero. Mas vai muito além: Jay Lombard, que escreve com suavidade e didatismo necessário, não fica no lugar-comum. E, muito menos, não fica em um campo de autoajuda de fácil absorção. Usando sua experiência como neurologista, ele investiga mistérios do cérebro para refletir e levar questões específicas para importantes macrocosmos. Afinal, a partir da mente de uma pessoa, é possível entender melhor a humanidade e antropologia social.
É interessante, então, como Jay Lombard consegue levar o leitor por meio de caminhos pouco usuais. Afinal, utilizando novas descobertas e pesquisas da neurologia, o autor de A Mente de Deus desbrava a alma humana em sua essência. Por meio de fatos, não de crenças individuais, o livro tenta compreender de onde surgiu a ideia de um Deus ou, ainda, o motivo de não sabermos se existe, de fato, uma figura superior comandando a vida terrestre. São interessantes observações científicas indo além do óbvio e esperado.
Em A Mente de Deus, a química cerebral não se resume ao funcionamento dos neurônios. E a essência da fé não fica reduzida a crenças divergentes. É tudo fruto de um embasamento teórico, científico, mas com uma amplitude rara em livros do gênero.
Assim, grandes questões vão saltando das páginas de A Mente de Deus. O que é a alma? Existe vida depois da morte? Deus é bom? Aliás, Deus existe? Ou é fruto de um reflexo da mente humana? Jay Lombard, por mais experiente que seja em sua profissão, não se empenha, de fato, em responder essa questões, como seria esperado. Ele causa as dúvidas, traz informações e espera que o leitor crie um rico diálogo com as páginas do livro.
Aos poucos, então, a obra de Jay Lombard repete um processo: assim como amplia significados da mente humana para a sociedade, os escritos do médico neurologista vão ampliando uma noção particular de Deus para significados mais sensíveis e tangíveis. Lombard, também, não nega questões obscuras em suas teorias e imaginações, escancarando-as nas páginas do livro e criando um diálogo ainda mais inteligente e interessante.
A Mente de Deus, então, é um livra-ensaio extremamente ágil, inteligente, provocativo, elegante e respeitoso. Não há exageros no que é escrito, não há mensagens sendo postas goela abaixo. Há, apenas, a criação de um diálogo entre escritor e leitor, uma rica troca de informações e conhecimento, que só amplia ainda mais a visão de mundo. E afinal, qual o objetivo da literatura senão esse? Informar, entreter, ampliar fronteiras. A Mente de Deus, sem dúvidas, é uma leitura certeira para quem quer explorar a fé e a razão, sem separar elementos tão importante para a sociedade como um todo. Livraço.
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