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  • Bárbara Zago

Resenha: 'A Sabedoria dos Psicopatas' revela outro lado da mesma moeda


Atire a primeira pedra quem nunca escutou a famosa história que seria capaz de determinar se você é um psicopata ou não. Uma mulher e sua irmã se encontram no funeral de sua mãe. Imediatamente, a mulher nota que um homem a observava fixamente. Conversaram por várias horas e ele pareceu ser extremamente atrativo e incrível: ela jamais havia conhecido alguém assim. Foi amor à primeira vista; era o homem com o qual ela sempre sonhou. Mas, ao final do dia, ela o perdeu de vista. A mulher o procurou por um longo período, mas ele havia desaparecido antes que pudessem trocar números de telefone. Dias mais tarde, a mulher apaixonada mata sua irmã. Por que ela fez isso? Bom, dependendo da resposta, pode-se notar ou não traços de psicopatia. A história é interessante, mas o transtorno vai muito além disso.

O psicólogo e especialista no assunto, Kevin Dutton, reuniu diferentes estudos que explicam aos leigos um pouco mais à respeito da psicopatia em seu livro A Sabedoria dos Psicopatas. Logo de início, no próprio prefácio, o britânico conta como achava que seu pai era um psicopata, mesmo que não fosse agressivo. Por conta das mídias, literatura e cinema, muito se associa a figura de psicopata à um assassino. No entanto, o que Dutton explica em sua obra é que a psicopatia não necessariamente inclui traços violentos; mais do que isso, ela muitas vezes pode ser extremamente vantajosa em determinados ambientes.

O autor traz uma citação de Aristóteles que talvez seja a mais coerente e perturbadora possível: "Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura". E de fato, o que separa um Hannibal Lecter de um grande CEO muitas vezes está na forma de "canalizar" essa psicopatia. Diferenças de criação ou outras experiências podem causar mudanças sutis no comportamento desse tipo de indivíduo. O destino de um psicopata depende de uma grande variedade de fatores, que incluem genes, histórico familiar, educação, inteligência e oportunidade. Enquanto ambos são destemidos, confiantes, carismáticos, frios e centrados, a maneira como tais características serão aplicadas no dia a dia farão toda a diferença.

Em sua obra, Dutton constantemente traz situações que ajudam a entender, ainda que muito superficialmente, a maneira como funciona o pensamento de um psicopata. Para não entregar o livro todo, é interessante mencionar o caso do trem, que talvez seja o mais ilustrativo de todos.

Situação 1: Um trem está em rota de colisão. Em seu caminho estão cinco pessoas; elas estão presas nos trilhos e não podem escapar. Felizmente, você pode acionar uma alavanca que desviará o trem para o outro trilho, longe das cinco pessoas - mas por um preço. Há outra pessoa presa naquele trilho, e o trem a matará. Você deve acionar a alavanca?

Situação 2: Como antes, um trem acelera descontroladamente em direção a cinco pessoas. Mas, dessa vez, você está atrás de um estranho grandalhão em uma plataforma sobre os trilhos. O único modo de salvar as cinco pessoas é empurrar o estranho. Ele cairá para a morte certa. Mas sua considerável corpulência bloqueará o trem, salvando cinco vidas. Você deve empurrá-lo?

Ainda que a lógica de salvar cinco pessoas e matar uma seja a mesma, espera-se que pessoas sem traços de psicopatia fiquem mais apreensivas diante da segunda situação. No entanto, um psicopata permanece inabalável diante de ambas as situações, mantendo a resposta de salvar os cinco, mesmo que implique em matar uma pessoa.

O ritmo da leitura de A Sabedoria dos Psicopatas é prejudicado pelo fato de Dutton citar muitos estudiosos e suas pesquisas, muitas quase que repetitivas. No entanto, tem uma escrita simples e fácil de ler, mesmo para quem se distancia da Psicologia ou Psiquiatria. A ideia de psicopatas serem serial killers vai se perdendo progressivamente e o leitor finaliza o livro com naturalidade, ao mesmo tempo em que adquire um enorme conhecimento sobre o assunto.

 
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