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  • Foto do escritorMatheus Mans

Resenha: 'Os Vestígios do Dia' fala sobre amor com dor, poesia e delicadeza


Outro dia estava em um sebo aqui perto de casa quando me deparei com Os Vestígios do Dia na estante. 20 reais. Uma boa pedida para entrar no mundo de Kazuo Ishiguro, premiado pelo Nobel e que ainda, falta minha, não havia entrado em sua literatura. E que começo! A obra, publicada originalmente no finalzinho dos anos 1980, é uma ode ao amor -- com dor, poesia e delicadeza.


A história é simples: um mordomo aceita o convite de seu patrão em tirar alguns dias de folga para rodar no interior da Inglaterra. No entanto, Stevens, o tal mordomo, nâo quer sair apenas para respirar o ar puro bucólico inglês: ele está em busca de miss Kenton, antiga companheira de trabalho, para descobrir se ela quer ou pretende voltar a trabalhar na mansão em que vive.


Engraçado como, aos poucos, o livro foi se transformando. Lento, quase tão bucólico quanto as paisagens que Stevens aprecia, Os Vestígios do Dia rapidamente deixa de ser uma história banal, de um homem viajando pelo interior, para ser uma história de amores perdidos, paixões que não aconteceram, sentimentos escondidos. As coisas vão se revelando aos poucos, lentamente.


Ao longo da leitura, fiquei dividido entre ser uma história de um homem absolutamente dedicado ao seu cargo de mordomo ou, até mesmo, uma história sobre a política do século XXI pelos olhos de um criado. Afinal, além de relatar seus sentimentos e sua viagem, o livro fala muito sobre a relação de Stevens com o antigo patrão, um homem poderoso durante a Grande Guerra.


Mas é isso e muito mais. A sensibilidade que surge avassaladora no último capítulo, quando do encontro entre os dois personagens, traz uma torrente de emoções -- é como a cena do carro de As Pontes de Madison, quando torcermos para que Meryl Streep abra a porta; ou, ainda, na cena final de La La Land. Torcemos por coisas que sabemos que não aconteceram ou até impossíveis.


É lindo, é triste, é emocionante demais. Que lindo livro. Ishiguro, já nesta primeira visita à sua obra, mostra domínio completo da história e de seus personagens: não é fácil ter não apenas uma história subentendida, mas sentimentos. Oras, estavam o tempo todo lá, apenas esperando o momento certo de surgir para nós, leitores, enquanto derramamos lágrimas desavisadas.


P.S.: Só realmente não entendi a necessidade de adicionar o conto no final. Quebra todo o impacto do final do livro. Se não ligar, pule o conto ou leia tempos depois. Bem melhor.

 

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